Título: Por Doha, EUA podem reduzir subsídio agrícola
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2007, Brasil, p. A2

Os Estados Unidos explicitaram ontem pela primeira vez no G-4 que aceitam fazer uma "redução modesta" na sua proposta de US$ 22,5 bilhões de subsídios agrícolas domésticos, para tentar desbloquear a Rodada Doha. Esta semana, o mediador da negociação agrícola, Crawford Falconer, avisara que um acordo agrícola só seria possível se Washington cortasse para menos de US$ 19 bilhões as subvenções que distorcem o comércio.

No ano passado, os EUA só concederam US$ 11 bilhões desse tipo de ajuda, graças à alta de preços das commodities. O mediador julga "inconcebível" que os americanos queiram sair da Rodada Doha com mais subsídios do que entraram.

Até recentemente, Washington não discutia cifras. Mas na reunião com o Brasil, União Européia e Índia, encerrada ontem em Londres, os americanos foram "mais explícitos" sobre o que podem e não podem fazer.

Mas os americanos insistiram para manter a cifra em segredo. A preocupação de Washington é tão grande com pressões dos lobbies e políticos na atual situação, que se recusa a admitir publicamente qualquer concessão enquanto não tiver certeza do movimento dos parceiros. Em todo caso, apesar do maior engajamento americano da discussão sobre números de cortes e de possibilidades de aproximação em alguns pontos, o G-4 continua longe de um entendimento.

A questão de disciplinas do acordo agrícola, por exemplo, para limitar o volume de subsídios por commodity, ainda precisa de muita negociação. Com relação a corte de tarifas agrícolas, a discussão deixou "mais claras as opções" que restam aos países. A questão agora é qual delas escolher. A barganha fica com os ministros, que reúnem nos dias 17 e 18 em Bruxelas.

A UE tem admitido corte médio nas tarifas agrícolas para quase 50%, mas negociadores acham que pode chegar a bem mais. Depende de uma combinação de barganhas, incluindo abertura para produtos industriais nos grandes emergentes, como Brasil e Índia.

A insatisfação ficou clara para alguns negociadores em relação aos "produtos sensíveis e produtos especiais", pelos quais países ricos e em desenvolvimento, respectivamente, poderão manter altas tarifas para proteger seus agricultores. O mediador agrícola propusera limitar os "sensíveis" a algo entre 1% a e 5% das linhas tarifárias, e os "especiais" algo entre 5% e 8%.

A questão é se o G-4 vai chegar suficientemente rápido a um acordo ou se a discussão volta à OMC. O documento do mediador agrícola já obrigou os quatro países a aprofundarem as discussões. Se eles demorarem muito, o mediador vai colocar seu segundo documento de "centros de convergência" de um acordo, pondo mais pressão sobre o G-4 e provavelmente puxando a discussão de volta para Genebra.