Título: Lula usa energia nuclear para pressionar por hidrelétricas
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2007, Brasil, p. A3

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem um recado aos que resistem às usinas hidrelétricas do rio Madeira. "Ou fazemos as hidrelétricas que temos de fazer, vencendo todos os obstáculos, ou vamos entrar na era da energia nuclear", afirmou ele em Uberlândia, na inauguração do Complexo Hidrelétrico Amador Aguiar II. Lula frisou que o país ainda não tem escassez de energia mas poderá ter em 2012 se não forem tomadas as medidas necessárias.

"Temos de falar com o Ministério Público, entidades de meio ambiente, ONGs, tribunais de contas e aproveitar que o papa está vindo aqui e conversar com o papa, o que não pode é este país parar por falta de energia." Lula argumentou que a energia hidrelétrica é a mais barata e deve ser a primeira opção. "Ninguém vai entender porque um país que tem os recursos hídricos que nós temos venha a construir usina a carvão, que é contraproducente e vai na contramão da história."

Segundo o presidente da República, os empresários precisam entender que não há muita alternativa. Não faz sentido investir em termelétricas movidas a diesel, a gás importado ou a carvão. Lula lembrou ainda que as alternativas "limpas", como a energia eólica e solar, são importantes mas não são viáveis. "Não dá para tocar o país com energia solar e energia eólica."

Lula frisou que a questão da energia elétrica é mais complicada do que imaginam alguns. "Nenhum empresário virá investir no Brasil se não dermos a certeza de que haverá energia para as indústrias brasileiras e estrangeiras", afirmou o presidente.

O presidente defendeu investimentos em hidrelétricas em todo o continente e comparou o potencial dos recursos hídricos da América Latina com barris de petróleo. Segundo ele, os recursos hídricos da região seriam suficientes para gerar energia equivalente àquela gerada por 1,3 trilhões barris de petróleo. Lula contou que tem conversado sobre o assunto com os presidentes dos outros países da América do Sul e apontado a necessidade de construir redes de transmissão integradas entre os países.

A exemplo do que o Brasil tem feito - investindo em linhas de transmissão entre as regiões para poder levar energia de onde está sobrando para onde está faltando -, Lula argumenta que os países devem investir na integração energética. Ele lembrou que Chile, Argentina e Uruguai já sofrem com a falta de energia, como o Brasil sofrerá se não tomar hoje as decisões que precisam ser tomadas. Hidrelétrica se pensa hoje para ficar pronta em cinco ou seis anos, frisou.

O presidente da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Roger Agnelli aprovou o discurso do presidente. Segundo ele, a companhia - uma das sócias do complexo inaugurado ontem - investirá prioritariamente em hidrelétricas, embora tenha projetos em andamento para construir térmicas movidas a carvão no país. A primeira opção é hidrelétrica, garantiu.