Título: Eleição sem vencedor claro mergulha Itália na incerteza
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Fonte: Valor Econômico, 26/02/2013, Internacional, p. A17

A Itália deve passar por um período de paralisia política e incerteza econômica após as eleições, que resultaram num Parlamento dividido. Como será muito difícil formar um governo estável, o mais provável é que o país volte às urnas em breve. Até lá, terá possivelmente um governo interino.

Os mercados reagiram mal ao resultado. As bolsas europeias já estavam fechadas quando as projeções começaram a indicar que não haveria um vencedor claro na eleição na Itália. Mas o resultado inconclusivo afetou a Bolsa de Nova York, que caiu 1,55%. Esse temor com o risco de um repique da crise da dívida europeia deve se espalhar hoje pelos mercados globais. O euro caiu em relação ao dólar.

Os italianos deram um sinal claro: chega da política de austeridade do atual governo, do tecnocrata Mario Monti. O seu bloco centrista obteve apenas 10% dos votos. Nove em cada dez italianos rejeitaram a receita de aumento de impostos e corte de gastos, implementada por Monti sob pressão da Alemanha.

O grande beneficiário dessa rejeição foi o Movimento 5 Estrelas, um partido de protesto criado e liderado pelo comediante Beppe Grillo, que obteve cerca de 25,5% dos votos na sua primeira eleição nacional, tornando-se o partido mais votado do país. O resultado surpreendeu, pois as últimas pesquisas, divulgadas duas semanas atrás, davam-lhe cerca de 16%.

Mas o movimento de Grillo acabou em terceiro na corrida eleitoral, atrás das coligações de centro-esquerda e de centro-direita (formadas por vários partidos).

Pelo complexo sistema eleitoral italiano, o partido ou coligação que vence a votação para a Câmara, ainda que por apenas um voto, obtém a maioria. E, na votação de domingo e ontem, a coligação de centro-esquerda, liderada por Pier Luigi Bersani, do Partido Democrático, ficou com a maioria, obtendo apenas 29,6% dos votos, contra 29,1% da coligação de centro-direita, liderada pelo ex-premiê Silvio Berlusconi.

No Senado, porém, a eleição é regional. Como a votação foi pulverizada, nenhum partido ou coligação terá maioria. Segundo projeções, a maior bancada não terá mais de 123 senadores, bem longe da maioria de 158. Antes da eleição, esperava-se que o centro-esquerda atingiria a maioria numa aliança com o bloco centrista de Monti. Mas o desempenho abaixo do esperado das duas coligações inviabilizou essa possibilidade.

Bersani poderia ter a maioria no Senado com o apoio do comediante Grillo, mas este disse durante a campanha que sua missão é enterrar a atual classe política italiana e que se recusaria a fazer alianças com os partidos tradicionais.

A única opção restante seria uma grande aliança entre esquerda e direita, mas isso é considerado bastante improvável.

Ontem mesmo, ainda antes do final da apuração, políticos de vários partidos já falavam sobre uma possível nova eleição em breve. Esse mesmo impasse ocorreu na Grécia, no ano passado, quando o país precisou de duas eleições para formar um governo estável.

O impasse político ameaça fazer com que a Itália perca a credibilidade e a trégua que ganhou dos mercados com o governo Monti. O país conseguiu reduzir fortemente seu déficit público, que ficou abaixo de 3% em 2012. Mas, com o impasse político, o futuro do ajuste fiscal é incerto, e a agenda de reformas de Monti deverá ficar paralisada. (Com agências internacionais)