Título: Sem medo do desemprego
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 16/12/2010, Economia, p. 23

Pesquisa mostra que brasileiro nunca esteve tão confiante na manutenção de seu posto

A criação recorde de empregos e o crescimento econômico a taxas perto de 7% animaram os brasileiros. Segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o consumidor nacional nunca esteve tão confiante na manutenção do seu emprego quanto agora. O Índice de Medo do Desemprego de dezembro de 2010 ficou em 79,3 pontos (numa escala que vai até 100), recuo de 2,2% em comparação com a pesquisa anterior, realizada em setembro, e de 7,3% em relação a dezembro do ano passado. É a primeira vez que o resultado fica abaixo dos 80 pontos. Quanto menor a pontuação, maior a confiança na preservação do posto de trabalho.

Próximo ano Para o economista da CNI Marcelo de Azevedo, a queda no índice está diretamente ligada à oferta de empregos no Brasil. ¿Com indicadores tão positivos, o brasileiro percebe, no dia a dia, que há vagas e se sente seguro. Para o próximo ano, apostamos que o medo do desemprego pode continuar a cair, pois não há projeções de retração no mercado de trabalho¿, afirmou.

Segundo dados do Ministério do Trabalho, de janeiro a outubro de 2010, foram criados 2,4 milhões de postos de trabalho, novo recorde para o período. O resultado foi 12% maior que o recorde anterior, verificado nos 10 primeiros meses de 2008, quando foram abertas 2,1 milhões de vagas. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os empregos formais foram responsáveis por 96% dos postos abertos até outubro no acumulado de 12 meses.

Na pesquisa da CNI, o índice de pessoas que afirmou não estar com medo do desemprego alcançou 56,7% das respostas válidas. A proporção das que afirmaram estar com muito medo de perder o posto, por sua vez, recuou de 15,3% em setembro para 13,6% em dezembro e atingiu o menor percentual da série. Já a quantidade de entrevistados que disse temer a desocupação manteve-se estável, em 29,7%. O levantamento foi realizado pelo Ibope com 2002 pessoas entre os dias 4 e 7 de dezembro.

CONFLITOS PREOCUPAM

Cristiano Zaia Do Correioweb

Apesar da confiança na manutenção do emprego, em razão do bom momento vivido pela economia, as questões trabalhistas foram eleitas como o conflito mais grave para 23,3% dos brasileiros entrevistados nas cinco regiões brasileiras, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em seguida, aparecem os problemas domésticos, que afligem 22% da população, e os criminais, com 12,6%.

Entre as pessoas para quem o trabalho é a principal causa de conflito, a maior parcela (21,2%) tem 50 anos ou mais de idade. O segundo problema que mais incomoda essa faixa etária são os benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social ou previdenciários em geral (19%).

Para uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo, Adriana Beringuy, os processos trabalhistas relacionados à rescisão contratual, contagem de cálculo de tempo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ou do seguro desemprego referem-se cada vez mais a pessoas mais velhas. Ela também lembra que a maior número de pessoas com conflitos trabalhistas concentra-se na região Sudeste (24,8%), onde se concentra p grosso da população ocupada (com empregos formais ou informais). ¿Os conflitos de trabalho estão associados ao aumento da formalização. Os trabalhadores formais têm salvaguarda garantida pela carteira assinada. Logo, têm muito mais incentivos para recorrer à Justiça¿, disse.

Segundo o advogado Gustavo Ramos, coordenador de Direito Trabalhista do escritório Aline&Roberto Advogados, o maior número de pessoas na iniciativa privada que recorre à Justiça do Trabalho o faz depois de perder o emprego por medo de rixas diretas com os patrões. Contudo, os que mais originam processos trabalhistas são os servidores públicos, por serem mais sindicalizados.

¿Ainda não há uma cultura forte de cumprimento integral da legislação trabalhista no Brasil. E um dado que exemplifica muito bem isso é o alto número de informalidade. Certamente essa questão judicial faz com que as pessoas elejam os problemas trabalhistas como o número um¿, afirmou Ramos, que administra um volume atual de 20 mil processos vinculados ao trabalho.

Impasse dura um ano Na pesquisa do IBGE, o Instituto de Defesa do Consumidor (Procon) apareceu como o órgão responsável pela maior participação na solução dos conflitos (69,4%), tanto de trabalho, familiares ou criminais. Já a ação judicial normal teve o maior índice de casos não solucionados (56,5%). O tempo de solução de conflitos foi de cerca de um ano em todas as situações, sendo que 90% dos casos foram resolvidos no Procon e 60%, no Judiciário