Título: Preço trava compra de Loma Negra pela Camargo Corrêa
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2005, Empresas, p. B4

Esta semana pode ser decisiva para as negociações de compra da fabricante de cimentos argentina Loma Negra pelo grupo brasileiro Camargo Corrêa. Elas podem ser retomadas, após o recesso de fim de ano, ou até deixadas de lado. As conversas já estiveram mais quentes no início de dezembro e esfriaram próximo da virada do ano. Depois disso, a controladora de Loma, Amalia de Fortabat, partiu para o balneário uruguaio de Punta del Este, de onde se esperava seu retorne ontem, segundo fontes ouvidas pelo Valor. O motivo para o impasse a que chegaram as negociações foi o preço. Logo no início do negócio, Fortabat, de 83 anos, sinalizou que queria US$ 1 bilhão pela companhia, valor considerado elevado. No início de dezembro, inesperadamente, elevou essa cifra para US$ 1,2 bilhão, segundo as fontes. A Camargo tem demonstrado grande vontade de adquirir a companhia argentina. Alocou um exército de advogados e assessores financeiros para trabalhar na operação e prefere acreditar que as conversas ainda terão sequência. Em 29 de novembro, foi entregue a primeira proposta formal da Camargo. Nela, chegava-se a US$ 1 bilhão, porém com pagamento parcelado. Na prática, isso reduzia o valor presente oferecido. Depois disso é que veio a elevação de preço por parte da vendedora. A Camargo ainda melhorou sua oferta, mas sem sucesso, segundo uma fonte qualificada. Na última quinzena de dezembro ocorreram três encontros entre representantes das duas empresas. Um deles em Nova York, entre o JP Morgan, que assessora a Loma, e o Goldman Sachs, que está com a Camargo Corrêa. Neles, o grupo brasileiro apresentou argumentos, como informações sobre outras transações no setor de cimento no mundo, para tentar convencer o outro lado de que o que está ofertando é o justo. "A proposta da Camargo é muito boa e a controladora ainda perceberá isso", diz uma fonte ligada ao lado brasileiro. O mais provável é que o lance não suba mais. Outros interessados, como a portuguesa Cimpor e a francesa Lafarge, caíram fora do processo antes. Ao longo de 2004, os interessados, inclusive a própria Camargo, chegaram a ofertar pagamento com ações. Mas Amalia de Fortabat deixou bem claro que só aceitava dinheiro vivo. A empresária argentina é conhecida por sua habilidade nas negociações e, devido a sua resistência no processo, já se questionou sua real determinação. Para a Camargo, a aquisição da Loma representaria uma mudança de patamar. Ao unir os ativos do grupo argentino aos seus, a empresa dobraria de tamanho numa tacada. Cada uma das duas companhias produziu cerca de 2,7 milhões de toneladas de cimento em 2004. Num mercado como o brasileiro, onde se opera com apenas metade da capacidade instalada, partir para outros mercados é fundamental para crescer. É o caso do grupo Votorantim, que já investiu US$ 1,3 bilhão nos EUA e Canadá. A Camargo tem capacidade instalada de 5,5 milhões de toneladas/ano. As informações da cimenteira argentina são divergentes, algumas indicando um total 7 milhões de toneladas e até mais. Segundo uma fonte que analisou a empresa, entretanto, dificilmente seria possível chegar a esse volume porque muitas fábricas estão ultrapassadas. Na Camargo, há projeções que indicam que, com algum investimento, seria possível chegar também às 5,5 milhões de toneladas do grupo brasileiro. Levando-se em conta as projeções de crescimento do mercado argentino de cimento, os brasileiros estimam que nos próximos dez anos não será preciso aumentar a capacidade instalada de Loma Negra. Segundo fontes ligadas ao setor, os ativos da companhia poderiam ser repartidos com o grupo Votorantim caso a Camargo feche a compra. Mas dentro da Camargo não há consenso. Alguns acham que o ideal seria ficar com tudo, justamente para assegurar que a empresa dobre de tamanho. Além disso, há duas dificuldades para se repartir os ativos da cimenteira. A primeira é uma concessão ferroviária da qual a empresa argentina é titular e que interliga várias das fábricas. Decidir com quem ficaria o mercado de Buenos Aires, o filé, seria outro obstáculo.