Título: Atividade ganha força em abril
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2007, Brasil, p. A5

O ambiente mais favorável ao investimento, a continuidade do aquecimento do mercado doméstico e a recuperação do setor agrícola fizeram com que a indústria fechasse o primeiro quadrimestre com produção em alta. E o movimento não ficou restrito em poucos setores. Aço, papelão, têxtil, autopeças e petróleo, por exemplo, estão produzindo mais. Os economistas acreditam que a expansão da indústria neste ano será marcada por uma maior dispersão (menor concentração) setorial.

No setor de aços laminados planos, o crescimento da distribuição desses produtos nos quatro primeiros meses de 2007 foi de 26% em relação a igual período do ano passado, como conta Carlos Loureiro, diretor-presidente da Rio Negro. Só em abril, no mesmo tipo de comparação, o avanço das vendas foi de 40%. Com esses números, Loureiro acredita que este ano poderá superar os bons resultados de 2004, quando a distribuição de aço cresceu 14%. "O consumo aparente desse produto pode subir cerca de 15% este ano", diz.

A demanda das indústrias produtoras de máquinas agrícolas e de máquinas e equipamentos em geral têm exigido bastante aço. Especialmente aquelas empresas que produzem máquinas para usinas de açúcar. "Além disso, há um movimento de recomposição dos estoques, que terminaram 2006 muito baixos", diz.

A Honda é uma das empresas que tem consumido mais aço. Em abril deste ano, sua produção para o mercado doméstico aumentou 40% em relação a igual mês de 2006. No quadrimestre, a alta chega a 21%. Para dar conta da demanda, a montadora contratou 600 funcionários para a produção. A projeção é que essa expansão se acelere e chegue a um incremento de 28% ao final de 2007.

Para os empresários ouvidos pelo Valor, o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e a redução das taxas de juros, sinaliza para uma preocupação maior com o setor produtivo e tem induzido novos investimentos nas indústrias. A escolha de Luciano Coutinho para o BNDES, acrescentam, reforça essa percepção.

O espraiamento da expansão da atividade industrial fica evidente nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No primeiro bimestre deste ano, houve crescimento da produção em 70% dos setores pesquisados. A média no ano passado foi de 56%. Sergio vale, economista da MB Associados, acredita que esse perfil vai se manter ao longo do ano. Para a produção de março, que será divulgada hoje pelo IBGE, ele estima alta de 1,3% sobre fevereiro e de 5,3% sobre março de 2006.

Na TRW, que fornece autopeças para para montadoras, as vendas avançaram entre 7% e 8% em abril sobre abril do ano passado. No quadrimestre, a expansão chega a 10%. Esse movimento é fruto do aquecimento da demanda doméstica, conta Moisés Bucci, presidente da TRW no Brasil.

Segundo ele, a queda dos juros, o maior acesso ao crédito e o alongamento dos prazos de pagamentos na compra de veículos têm contribuído para o bom desempenho da empresa. A utilização da capacidade instalada subiu de 87% no fim de 2006 para 95%. Para produzir mais, Bucci contratou mais 50 pessoas para o chão de fábrica.

São as novas contratações como essa e o conseqüente crescimento da renda do trabalhador que ajudam empresas como a Indústria São Roberto a também incrementarem suas atividades. Produtora de embalagens de papel e papelão que armazenam de alimentos a geladeiras e eletrodomésticos, a São Roberto deve fechar o primeiro quadrimestre com alta de 2,5% na produção, segundo estimativa de Roberto Nicolau Jeha, presidente da empresa, que conta com estabilidade na atividade em abril.

O setor de borracha sintética também trabalhou em ritmo forte no quarto mês deste ano. A Petroflex, maior produtora latino-americana e dona de uma fatia de quase 70% do mercado brasileiro, fechou abril com uma produção de aproximadamente 32 mil toneladas nas três unidades, com elevação de 10% em relação às 29 mil toneladas de março.

O presidente da empresa, Wanderley Passarella, diz que "o mercado interno está forte, puxando bem as vendas." Quanto às exportações, ele acredita que a Petroflex deverá vender este ano cerca de 30% da sua produção para o mercado externo, 10% menos do que no ano passado. A Petroflex está buscando reestruturar seus custos e agregar valor ao seu mix de produção para se adaptar "à nova realidade do câmbio e do mercado."

No setor têxtil, um pequena empresa carioca, a Linifício Leslie, segundo sua direção, a única fabricante atual de linho no Brasil, também teve motivos para festejar o mês de abril. Segundo Elizabeth Schama, presidente da empresa, porém, o incremento de 2,5% na produção foi comandada pelo mercado externo.

Elizabeth diz que as exportações estão crescendo mesmo após ter reajustado em 25% seus preços no primeiro trimestre para compensar a valorização do real. Segundo ela, o crescimento das vendas está sendo possível porque alguns concorrentes importantes da Bélgica e da Itália estão saindo do mercado. Além disso, a empresa passou a importar fios de linho da China, barateando custos de produção.

A Calçados Bibi não conseguiu trilhar o mesmo caminho da Leslie. Segundo o presidente da empresa, Marlin Kohlrausch, as vendas domésticas de calçados infantis caíram 6% no acumulado do primeiro quadrimestre em comparação com o mesmo período do ano passado. Os negócios totais, porém, cresceram 8,5% graças ao aumento das exportações, que representam de 25% a 30% da produção da Bibi.

A indústria química ainda fechou abril, mas os prognósticos podem ser promissores, a julgar pelos três primeiros meses do ano. Em março, a produção do segmento de uso industrial subiu 12,69%. O avanço deveu-se principalmente à recuperação da demanda interna, segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). No acumulado do primeiro trimestre, a produção subiu 3,48%. (Colaboraram Chico Santos, do Rio, Sérgio Bueno, de Porto Alegre e Patrick Cruz, de Salvador)