Título: Mantemos a inflação sob controle, afirma Dilma
Autor: Peres, Leandra; Campos, Eduardo; Sousa Yvna
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2013, Brasil, p. A3

Dilma falou para um grande grupo de empresários, reunido no Conselhão e indicou que o governo tomará as medidas necessárias para viabilizar uma maior participação privada nos projetos de infraestrutura: "O Estado não resolve tudo"

Num gesto para reconquistar a confiança dos empresários, fundamentais para recuperar a taxa de investimento na economia, a presidente Dilma Rousseff renovou ontem o seu compromisso com os pilares da política macroeconômica ortodoxa - estabilidade monetária, câmbio flutuante e robustez fiscal - e reconheceu que há limites para a atuação do Estado.

"Nós mantemos a inflação sob controle, e achamos que a inflação é um valor em si, na medida que ela garante não só os ganhos do salário. O controle da inflação garante também a capacidade de previsão do governo, dos empresários e os ganhos dos empresários e dos trabalhadores. Nós mantemos a política de câmbio flexível, mantemos uma política de robustez fiscal", afirmou.

Depois de cinco trimestres seguidos de queda nos investimentos, a presidente Dilma reuniu-se de forma individual, desde o começo do ano, com alguns dos principais empresários do país. Ontem, foi a vez de falar para um grande grupo, na cerimônia que marcou os dez anos do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o chamado Conselhão.

"Nenhuma das medidas que tomamos foi tomada com a pretensão de que o Estado resolve tudo", disse. A presidente indicou que o governo tomará as medidas necessárias para viabilizar uma maior participação privada nos projetos de infraestrutura. Dilma reconheceu ainda que o controle da inflação é essencial para dar previsibilidade aos investimentos privados.

De acordo com o diagnóstico apresentado pelo ministro-interino da Fazenda, Nelson Barbosa, a inflação perderá fôlego no segundo semestre e a recuperação da economia já é visível nos indicadores de janeiro. Ele citou, entre outros dados, o fluxo de veículos pesados nas rodovias, venda de cimento e consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) para comprovar a retomada.

A discussão sobre o compromisso do governo com o controle da inflação se intensificou a partir da divulgação do IPCA de janeiro, que chegou a 0,86%, índice mais alto desde 2003. Nas últimas semanas, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, manifestou preocupação com a escalada de preços e sinalizou que uma elevação dos juros, hoje em 7,25%, não está fora do horizonte da autoridade monetária. Ao mesmo tempo, falou que a taxa não oscilará tão intensamente quanto no passado.

Ontem, Dilma falou em dar maior "racionalidade" ao sistema tributário e manter as desonerações, na medida em que houver espaço fiscal. "É óbvio que nós não temos todo o dinheiro do mundo para fazer desoneração, mas, no ano passado, fizemos desonerações significativas. O que nós não conseguimos é fazer tudo de uma vez só", afirmou a presidente.

Numa outra mensagem aos empresários, a presidente reconheceu que o Estado não consegue resolver os problemas sozinho e falou numa "falsa contradição" entre público e privado. "Tem de acabar a contradição no Brasil de que ou se faz algo público ou se faz algo privado", disse a presidente Dilma.

Ela citou o ProUni, programa do governo federal que paga bolsas de estudos a universidades privadas, e o subsídio à população de baixa renda no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida como exemplos de que o governo ouve o setor privado e procura resolver os problemas que dificultam o investimento. A preocupação em atrair o setor privado aumentou com a queda no crescimento do Produto Interno Bruto em 2012 e as baixas taxas de investimento.

O Banco Central, na ata do último Copom, falou em restrições de oferta como uma das explicações para o comportamento da inflação. Esse diagnóstico é partilhado por outros setores do governo, que veem nas concessões e demais investimentos em infraestrutura um caminho para reduzir esses gargalos e puxar o crescimento.

A presidente Dilma disse que, além das concessões já anunciadas de rodovias e ferrovias, estimadas em R$ 235 bilhões, o governo fará uma segunda rodada de trechos ferroviários. Ela não deu detalhes sobre cronogramas ou a extensão dos novos trechos.

Dilma defendeu as mudanças no setor de portos, enviadas pelo governo ao Congresso na Medida Provisória (MP) 595. A presidente quer abrir o setor, porque considera os custos muito elevados, mas disse que isso não implicará perda de direitos dos trabalhadores do setor.

Os empresários também ouviram da presidente que as fontes de financiamento de longo prazo serão reforçadas, para que não faltem recursos aos vencedores das licitações. Os avanços sociais, tema que deve ser um dos carros-chefe da campanha petista à reeleição de Dilma, não ficou de fora da fala aos empresários. Ela repetiu que o Brasil precisa ser um país de "classe média" e que a inclusão de novos consumidores ao mercado exigirá também oferta de melhores serviços.