Título: Deflação de agropecuários faz IGP-M recuar para 0,29%
Autor: Martins, Arícia
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2013, Brasil, p. A3

Com perda de fôlego maior que o esperado nos produtos agropecuários, que recuaram de uma deflação de 0,62% para 1,31%, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) cedeu de 0,34% para 0,29% entre janeiro e fevereiro e colocou perspectivas mais favoráveis para a inflação de alimentos no varejo. A expectativa de economistas é que os preços de alimentação ao consumidor, que já subiram menos em fevereiro, mas se mantiveram em nível elevado, desacelerem ainda mais em março, respondendo à trajetória já observada no atacado. Para os preços ao produtor, no entanto, a percepção é que as quedas de grãos atingiram o piso.

Com peso de 60% no IGP-M, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) subiu de 0,11% para 0,21% na passagem mensal, influenciado pelos preços industriais. Essa parte do atacado avançou de 0,40% para 0,82% no período, com recomposição nos preços do minério de ferro, que se acelerou de 1,46% para 3,21%, e impacto do reajuste dos combustíveis nas refinarias. Devido ao aumento da Petrobras, esse item saltou de 0,08% na medição anterior para 5,09% na atual.

Nas matérias-primas brutas e nos bens finais agropecuários se destacaram os movimentos de retração. Item de maior peso no IPA, a soja ampliou sua deflação de 9% em janeiro para 11% na atual medição, assim como o milho (menos 1,41% para 2,88%). Os alimentos in natura, por sua vez, seguiram em ascensão, de 6,99%, mas menor que a observada no mês passado, de 9,72%.

Segundo Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV, a soja "está no caminho" de devolver a escalada de 31,3% acumulada nos últimos 12 meses, mas esse aumento não será totalmente corrigido pela safra brasileira. "Nossa safra já derrubou bastante os preços, mas só teremos confirmações de que a safra americana foi recorde a partir de setembro", disse.

Com a perda de ímpeto esperada para a queda da soja e do milho a partir dos próximos IGPs, Quadros afirmou que a inflação no atacado pode se elevar em março, embora não esteja em seu cenário nenhuma alta explosiva. Uma taxa em torno de 0,43% para o próximo IGP-M, nível registrado em igual mês do ano passado, é algo "compatível" na visão do economista da FGV.

Para Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, os produtos agropecuários devem voltar ao terreno positivo já a partir do IGP-DI do próximo mês. Leal avalia que as commodities agrícolas recuaram em fevereiro em boa parte devido à recente apreciação do real em relação ao dólar, cuja cotação, daqui em diante, deve ficar estabilizada. Assim, puxado por deflação menor dos preços agropecuários, o ABC estima alta entre 0,45% e 0,50% para o IGP-M em março.

Leal afirma, porém, que uma surpresa positiva com a evolução da parte in natura no atacado, que está desacelerando com mais rapidez que o previsto, traz viés de baixa a seu cenário para a inflação de alimentos no varejo. Com peso de 30% no IGP-M, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV diminuiu sua alta de 1,97% para 1,51% de janeiro para fevereiro, período em que os alimentos passaram de 1,97% para 1,51%, taxa que o analista ainda considera desconfortável.

Para março, no entanto, a aposta é que os preços de alimentos tenham sua alta moderada. Depois de avanço de 1,99% em janeiro no IPCA e de aumento 1,3% estimado para o mês atual, o ABC espera que o grupo alimentação suba apenas 0,4% na medição seguinte. "Toda essa deflação no IPA agrícola ainda não apareceu no varejo", diz Leal.

Quadros, da FGV, destacou que os alimentos processados ao produtor deixaram aumento de 0,50% em janeiro para queda de 0,31% em fevereiro, com taxas menores em aves abatidas e frigorificadas (3,21% para 0,15%), carne bovina (0,85% para -1,19%) óleo de soja refinado (-0,75% para -4,56%), entre outros. Na próxima leitura do IGP-M, disse ele, a taxa de alimentos processados "não será tão negativa assim", mas com o repasse dessa descompressão ao varejo, junto à desaceleração dos in natura, o grupo alimentação no IPC deve mostrar uma alta bem menor do que a observada neste mês.