Título: Lula e Aécio trocam elogios em Minas
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2007, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu ontem que fará o que estiver ao alcance do governo federal para flexibilizar a situação dos Estados, inclusive no que diz respeito à capacidade de endividamento. "Queremos que os governos estaduais tenham possibilidade de fazer investimentos", afirmou ele. O aumento do limite de endividamento dos Estados é uma das bandeiras do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), com quem Lula teve ontem um dia de lua-de-mel explícita. Partidos adversários é uma coisa que só deve existir até as eleições, foi o que deixaram claro em duas solenidades públicas e num almoço reservado com pecuaristas e políticos na Fazenda Mata Velha, perto de Uberaba. O almoço foi oferecido pelo criador de gado zebu Jonas Barcelos, que é vice-presidente da Associação Brasileira de Criadores de Gado Zebu (ABCZ).

O presidente petista e o governador tucano desembarcaram cedo em Uberaba, para a abertura de uma freira agropecuária, com troca de amabilidades e muita conversa de pé de ouvido. "Existe um tempo em que você disputa, você critica e é oposição", disse Lula. "Isso é antes das eleições." O clima de "somos grandes amigos" durou até o fim do dia, em Uberlândia, durante a inauguração de uma usina hidrelétrica.

O governador de Minas, que não perde oportunidade de fazer propaganda da sua gestão-modelo no Estado, desta vez fez concessões. E reconheceu que muito do avanço que conseguiu em Minas foi resultado de trabalho em parceria com o governo federal. Segundo ele, apesar dos alertas que costuma fazer, como contribuições, estará sempre de mãos estendidas para o presidente da República. Recentemente, em entrevistas à imprensa, Aécio chegou a acusar Lula de romper o pacto de confiança com os governadores, ao não cumprir o que prometeu na reunião realizada no dia 6 março.

Ontem, Lula reconheceu que ainda não cumpriu tudo o que prometeu aos governadores. "Eles (os pleitos) são muitos e eles são muito espertos", brincou o presidente. Ele informou que até o fim de maio deverá convocar uma nova reunião com os governadores para ver o que é possível fazer. Segundo isso, foi por interesse de "fazer coisas" para os Estados que seu governo lançou o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), como mais de R$ 500 bilhões em investimentos.

O presidente frisou sua amizade antiga com Aécio Neves, uma relação que se diz muito à vontade para manter porque em 2010 não será candidato à nada. O tucano retribuiu os mimos, reforçando o discurso do presidente. "Independente de alianças e disputas futuras, o Brasil tem de superar essas atitudes absolutamente retrógrada, eu diria quase tupiniquins", declarou Aécio. "Essa crítica de que a oposição não deve conversar com o governo central não tem sentido em uma país como o nosso." O mineiro afirmou ainda que o tucano Tasso Jereissati, presidente do partido, deve continuar mantendo encontros com o presidente da República porque isso é importante para os Estados. "Não significa abdicar de posições", argumentou.

Em seu discurso em Uberaba, Lula afirmou que governadores têm uma chance histórica de provar, até 2010, que fizeram jus à expectativa que seus eleitores tinham sobre eles. Segundo o presidente, não há espaço para que ele e os governadores se tratem como situação e oposição porque o que está em jogo são as responsabilidades administrativas. "Vamos discutir as divergências como adultos civilizados, pelo bem do Brasil."