Título: "População ficou mais criteriosa com o trabalho das comissões"
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2007, Política, p. A8

Peça fundamental da oposição na CPI dos Correios, responsável por investigar o mensalão no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) será a principal liderança de tucanos e democratas dentro da recém-criada CPI do Apagão Aéreo da Câmara.

Na primeira reunião da CPI, quando prevaleceram discussões sem qualquer utilidade para o foco da comissão, Fruet ficou calado. Está pessimista quanto ao futuro das investigações. "A CPI começa com a impressão de que as pessoas, muito mais do que investigar, irão desempenhar o papel de cão-de-guarda. Isso é ruim", disse.

Fruet não foi indicado à toa pelo PSDB. Sua atuação à frente da CPI dos Correios lhe deu visibilidade na bancada. Tem hoje, até entre os governistas, reputação acima da média dos colegas. Em fevereiro, na disputa pela presidência da Câmara, foi indicado ao cargo justamente por ter a possibilidade de roubar votos da base governista. Na CPI, Fruet tentará novamente estabelecer boa relação com a base aliada. "Quanto à forma, queremos muito diálogo." A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Fruet ao Valor:

Valor: Que comparação o senhor faz entre a CPI dos Correios e a CPI do Apagão Aéreo?

Gustavo Fruet: Aquela começou com uma denúncia de corrupção, no caso do Maurício Marinho. Essa começa com o trágico acidente da Gol. Aquela criou uma expectativa que pudesse gerar o pedido de impedimento do presidente da República. Esta não. Aquela deu origem à descoberta do mensalão, envolvendo pessoas diretamente ligadas ao presidente. A CPI dos Correios teve uma mudança na postura do presidente e do relator que eram tidos como pessoas chapa-branca. Essa começa também com o governo fazendo prevalecer a sua maioria sem ter havido diálogo prévio com a oposição. A CPI dos Correios teve dimensão que ninguém esperava e teve investigação de vários contratos do governo, não só dos Correios. Esta CPI começa com o foco no acidente, com a crise de infra-estrutura que não se resolve, mas é evidente que já surgiram denúncias envolvendo atos do governo. E lembro: a denúncia primeira que surgiu, relacionada à publicidade da Infraero, teve origem na CPI dos Correios, quando houve uma determinação do Tribunal de Contas da União para auditar todos os contratos de publicidade do governo.

Valor: E qual a expectativa para esta CPI?

Fruet: A expectativa é que tenhamos resultados. O nosso desafio é dar o diagnóstico e mostrar que isso vai ter efeito no sistema a curto, médio e longo prazo. Se essa CPI conseguir fazer isso, muito mais do que um embate entre oposição e governo, ela reafirmará a importância de uma CPI.

Valor: Pela primeira reunião, o senhor vê boas perspectivas?

Fruet: Não, não vejo. Vejo que há um processo tensionado, há um início com muita prevenção. Se confunde, mais uma vez, o princípio da maioria com o objetivo de evitar ou desprezar a minoria e a linha de investigação. Ninguém mais é irresponsável e imaginar que um bate-boca vai se sustentar. Ou que vai gerar uma manchete no dia seguinte ou que dê credibilidade a quem dele participar. Há, hoje, muito mais critério da população e de quem a acompanha a CPI como os meios de comunicação. Uma CPI não é uma corrida de cem metros. É uma maratona. Vai exigir fôlego. Mas começa com a impressão de que as pessoas, muito mais do que o papel de investigação, vêm com o papel de cão-de-guarda. Isso é ruim. Temos de ter respeito e permitir o debate.

Valor: Quais são os primeiros passos de investigação traçados pela oposição?

Fruet: Já apresentamos requerimentos pedindo convocações do ministro da Defesa, comando da aeronáutica, presidentes da Anac e da Infraero, sindicatos dos aeronautas e dos controladores, associação dos controladores e uma série de organizações e entidades que de alguma maneira participaram ou participam da investigação do acidente da Gol. Pedimos os inquéritos da Polícia Federal, da Força Aérea Brasileira e a auditoria do TCU. Pedimos ao TCU assessoramento técnico à comissão com o objetivo de já começar a colocar em funcionamento esses temas.

Valor: Os Democratas têm dito que querem investigar primeiro a Infraero e o PSDB tem discordado dessa linha de investigação. Como o senhor tentará contornar essa desavença?

Fruet: Houve essa discussão de forma pública. Mas hoje nós estivemos com o líder e não é essa a orientação dele aos deputados democratas. Não há este foco (da Infraero). Estrategicamente, só serviria para tensionar e o resultado seria impossível de aprovação diante da maioria. O que queremos é saber qual é o papel da Infraero no sistema. Se há harmonia da Infraero com a Anac, a Defesa e a Aeronáutica. Se os recursos administrados pela Infraero estão sendo bem utilizados. É evidente que isso será foco de pedidos da comissão. Não se trata de apontar responsáveis ou pedir a convocação dessa ou daquela pessoa. Lembro a CPI dos Correios, quando toda a diretoria dos Correios, na época, foi afastada.

Valor: As companhias aérea devem ser chamadas como co-responsáveis ou como testemunhas do caos aéreo?

Fruet: Não se trata, neste momento, de colocar em dúvida empresas e profissionais da atividade. Mas é evidente que as empresas serão convocadas sem qualquer tentativa de constrangimento, já que se trata de um instrumento das CPIs. E serão chamadas para colaborar sobre a crise no setor mas também serão cobradas com relação ao apoio, à informação e a estrutura dada aos usuários. Hoje parece que não é mais normal um consumidor comprar a tarifa, saber do horário de embarque do seu avião e poder chegar com segurança ao destino. Evidente que queremos saber porque isso aconteceu. A TAM e Gol cresceram muito e isso tem um impacto na estrutura dos aeroportos, no fluxo de vôos e na demanda. Queremos entender isso.

Valor: E qual será o papel dos controladores nessa investigação?

Fruet: Nesse momento, estamos chamando todos como testemunhas. No caso específico, chamamos o sindicatos e a associação dos controladores. Mas é evidente que, no decorrer do tempo, se tivermos acesso ao inquérito, poderemos convocar de outra forma. (TVJ)