Título: Clima tenso marca instalação de CPI do Apagão
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2007, Política, p. A8

A CPI do Apagão Aéreo foi instalada ontem em clima muito tenso. Como previsto, o governo ficou com a presidência, a vice-presidência e com a relatoria da comissão. Nas duas horas da primeira reunião do colegiado já ficou evidente que será difícil conduzir as investigações. O deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) foi eleito presidente da CPI. Para vice, foi escolhido Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-aliado de Anthony Garotinho. O relator será Marco Maia (PT-RS).

Tanto o petista quanto os pemedebistas tentaram mostrar que estão dispostos a fazer investigação profunda no sistema aéreo brasileiro. Ao falar aos deputados, durante a reunião da CPI, Marco Maia declarou suas intenções. "É óbvio que vamos tratar de todos os temas. Terei posição isenta. Não furtaremos de discutir qualquer tema colocado", afirmou. Depois, à imprensa, declarou-se favorável à convocação dos últimos presidentes da Infraero, foco de denúncias de corrupção nas obras de reforma de aeroportos. "Uma das medidas é convocar alguns ex-presidentes da Infraero para falar como ela funciona. Se acharmos necessário, inclusive dos governos anteriores", disse.

Mas logo tratou de vincular possíveis investigações à correlação desses desvios à crise nos aeroportos. "Se esses temas tiverem conexão com o sistema aéreo, a Infraero será investigada. Nós precisamos trabalhar somente acerca do processo original da CPI, com foco determinado. Não queremos transformá-la em CPI do fim do mundo", ressaltou.

O governo fala abertamente de baixar o nível das discussões na CPI. "Não existe rolo compressor. Mas o objeto da CPI não pode ser as luzes e o palanque para as próximas eleições", afirmou o líder do governo, José Múcio Monteiro (PTB-PE). Curiosamente, na primeira reunião da comissão, dois suplentes indicados por partidos da base aliada foram responsáveis pelas maiores demonstrações de que estão ali para brigar.

Silvio Costa (PMN-PE) e Eduardo Valverde (PT-RO), suplentes, mais atrapalharam do que ajudaram quando pediram a palavra. Quando a oposição reivindicou o posto de segundo vice-presidente da CPI, protestaram e tentaram evitar a indicação de PSDB, DEM e PPS. Foi preciso o líder do PT, Luiz Sérgio (RJ), colocar panos quentes e se manifestar favoravelmente ao pleito oposicionista.

A indicação de nove deputados em primeiro mandato entre os 16 titulares da CPI obrigou os líderes a participarem ativamente da reunião de ontem. Onyx Lorenzoni (DEM-RS), Júlio Redecker (PSDB-RS), Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP), Luiz Sérgio (PT-RJ) e Fernando Coruja (PPS-SC) falaram mais do que quaisquer outros integrantes da comissão.

A segunda vice será a deputada Solange Amaral (DEM-RJ), e o terceiro vice-presidente, Nelson Neurer (PP-PR). A eleição dos dois aos cargos será formalizada na próxima terça-feira, quando a CPI realizará sua primeira reunião deliberativa. Ontem, já foram apresentados dezenas de requerimentos. O primeiro deles foi do deputado Vic Pires Franco (DEM-PA), que convoca o delegado da Polícia Federal Renato Sayão Dias, responsável pelo inquérito sobre a queda do avião da Gol.