Título: Cai fatia da América Latina no investimento global
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2007, Internacional, p. A12

O volume de investimento estrangeiro direto (IED) na América Latina teve um ligeiro crescimento em 2006, atingindo um total de US$ 72,439 bilhões. Mas o avanço não foi suficiente para aumentar a participação da região na captação mundial de investimentos. A fatia dos países latino-americanos em relação aos demais caiu para 8% - ante os cerca de 11% que vinham sendo registrados em anos anteriores. México e Brasil foram os que mais atraíram recursos.

Os dados constam do relatório divulgado ontem pela Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), órgão das Nações Unidas, e mostram que, na América do Sul, em particular, os investimentos se concentraram na exploração de recursos naturais.

A boa notícia é o discreto incremento, de 1,5% em relação a 2005, do volume de IED captado no ano passado. O volume total foi de US$ 71,3 bilhões para US$ 72,4 bilhões. Os investimentos no Brasil saltaram de US$ 15 bilhões para US$ 18,7 bilhões. Argentina, Colômbia e México tiveram queda no IED.

A Venezuela teve desinvestimento (saída de capital). Para a Cepal, isso não se deveu só a mudanças regulatórias, mas ao fato de a petroleira PDVSA não ter divulgado balanço em 2003 e 2004 e, assim, não ter remunerado seus sócios estrangeiros. Nos anos seguintes, com a publicação dos balanços, os lucros distribuídos foram registrados como saída de IED.

O estudo lembra que a proporção mundial da região em IED já chegou a 17% nos anos 70 e parte do 80, até a queda brusca provocada pela crise da dívida que afetou alguns países, incluindo o Brasil. No anos 90, durante a fase das privatizações, a participação da região voltou aos 16%. Entre os países em desenvolvimento, diz a Cepal, a América Latina, chegou a abocanhar entre 40% e 50% dos investimentos nos anos 70. Em 2006, ficou com a metade disso.

A Cepal atribui o recuo no porcentual da participação ao crescente número de multinacionais que abandonaram a região ou "reduziram consideravelmente suas operações", entre elas, Verizon, AT&T, Suez, Shell e Total.

O relatório destaca "a limitada capacidade da região de atrair projetos de IED de qualidade e de elevar a qualidade dos existentes". E numa referência às estatizações do setor de petróleo e gás na Bolívia da Venezuela, diz ainda que "um dos motivos de maior preocupação nessa área é a intensificação dos conflitos relacionados com a exploração de recursos naturais que poderiam limitar o IED".

Intitulado "O investimento estrangeiro na América Latina e no Caribe", o estudo diz que outra inquietação é "a relativa incapacidade dos procedimentos formais de arbitragem" que regem acordos bilaterais de investimento em solucionar "controvérsias sobre investimentos entre investidores estrangeiros e alguns governos".

Entre as boas notícias, o relatório chama a atenção para o aumento dos investimentos no exterior feitos por empresas latino-americanas - "uma demonstração de que as empresas da região estão se internacionalizando num ritmo muito mais rápido que no passado". De 1997 a 2003, esse fluxo beirava os US$ 10 bilhões. Em 2006, ficou na casa dos US$ 40 bilhões.

Mais no site www.eclac.org/brasil/