Título: BC compra US$ 4 bilhões e impede que o dólar caia abaixo de R$ 2,00
Autor: Guimarães, Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2007, Finanças, p. C1

Para descolar o dólar da fronteira dos R$ 2,00 à qual chegou na manhã de ontem, o Banco Central fez duas pesadas intervenções cambiais. A mais vigorosa, no valor de US$ 3,152 bilhões, foi realizada no mercado futuro de dólar, num reconhecimento oficial de que a fonte da sobrevalorização do real está instalada nos pregões derivativos da BM&F. No mercado à vista, a atuação recolheu US$ 850 milhões. No total, o BC retirou do sistema US$ 4,002 bilhões. E conseguiu reverter a rota de baixa da moeda americana. De manhã, o dólar chegou a tombar 0,79%, para R$ 2,008. Mas encerrou o dia cotado a R$ 2,0280, em alta de 0,19%.

Quando o dólar atingiu a barreira dos R$ 2,00, às 11 horas, o BC anunciou a intenção de vender aos bancos nada menos do que 63,05 mil contratos de swaps cambiais reversos, o instrumento utilizado por ele para adquirir dólares no mercado futuro. O volume, quase cinco vezes maior que o montante de 12,7 mil dos últimos leilões, chegou a assustar as instituições. Mas o mercado não titubeou e adquiriu a oferta inteira, no valor levemente acima de US$ 3 bilhões. Foi a maior operação já realizada com swaps reversos. Segundo o chefe de análises da CMA, Luiz Rogê Ferreira, do início do ano até a última quarta-feira, o BC, em dez atuações, havia vendido liquidamente (sem considerar as rolagens de swaps reversos que estavam vencendo) US$ 3,59 bilhões, dos quais US$ 3,4 bilhões apenas nos últimos seis leilões, série iniciada no dia 20 do mês passado, quando anunciou que as atuações seriam imprevisíveis. Ou seja, só ontem o BC vendeu quase tudo o que havia colocado nos primeiros quatro meses do ano.

Com o leilão de ontem, o estoque de swaps reversos subiu a US$ 19,56 bilhões. Por meio desse instrumento, o BC visa a impedir a alta do cupom cambial, a taxa do empréstimo em dólar no Brasil. Com o avanço do cupom, tornou-se muito interessante aos bancos nacionais captar dinheiro no exterior para aplicar nesse segmento derivativo. Ao trazer esses dólares, as instituições aumentam suas posições vendidas à vista registradas no BC. Elas subiram de US$ 6,466 bilhões no final de março para US$ 7,516 bilhões no fim de abril, maior patamar da história. Os dólares captados no exterior são aplicados no mercado futuro de dólar. Quando o BC vende swaps reversos (o que equivale a comprar dólar futuro) quer, na verdade, evitar a alta da taxa do cupom cambial. Deseja inibir a operação que resulta na ampliação das posições vendidas. Como estas são incorporadas às reversas internacionais do país, acabam contaminando-as. Além dessas arbitragens financeiras, as reservas estão viciadas pelos dólares de carry-trade montado para se ganhar o diferencial de juros entre duas moedas. Tesoureiros estimam que cerca de US$ 40 bilhões das reservas de US$ 120 bilhões não são confiáveis. Trata-se de dinheiro que pode voar em caso de grave crise internacional.

Se os swaps reversos surtirem efeito na inibição da montagem das posições vendidas pelos bancos, não irão desestimular o carry trade (a tomada de empréstimo em ienes para aplicação em reais). Só cortes mais acentuados da Selic teriam esse poder.

Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o fundamento mais importante para a valorização das principais moedas flutuantes (iene, euro, real etc.) tem sido a expectativa de "soft landing" da economia americana, resultando em redução da competitividade pelo capital internacional. "Cada vez mais os ativos financeiros dos EUA estão reduzindo suas taxas de retorno e, com isso, a diferença entre os retornos oferecidos pelas economias emergentes tem se ampliado e, ainda, com menor risco, dado o volume crescente das reservas internacionais e a redução das dívidas soberanas com recompra de papéis", diz Agostini.

A ofensiva pesada do BC no câmbio mereceu no mercado monetário interpretação que ajudou a derrubar os juros futuros. A venda de US$ 3 bilhões em swaps reversos em um único dia foi vista como um gesto de desespero por parte de um BC que, tão preocupado assim com a valorização do real, não hesitaria em acelerar a queda da taxa Selic. O juro para a virada de junho para julho, que ontem recuou 0,01 ponto, para 12,19%, já suporta um corte da Selic de 0,40 ponto na próxima reunião do Copom, marcada para 6 de junho.