Título: ING eleva capital no Brasil para US$ 210 mi
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini e Carvalho, Maria C.
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2007, Finanças, p. C10

"O mundo está dizendo que a nossa moeda vale mais". A frase é do presidente do banco ING no Brasil, Deiwes Rubira de Assis, que, em visita a investidores externos, voltou ainda mais convencido de que a economia brasileira passa por uma mudança estrutural, com aumento das exportações e fluxo de recursos externos - inclusive investimento externo direto no setor produtivo - que não dá sinais de arrefecimento.

Com o real mais forte e o crédito farto, os grandes grupos brasileiros passam por um processo de internacionalização que está apenas começando, avalia. "O país está absorvendo plenamente a apreciação do real", considera.

O novo cenário, no seu entender, amplia as oportunidades para um banco de atacado. "O ING, no Brasil desde 1983, passa por um reposicionamento", define. Desde meados de 2004, o banco vem crescendo com mais força. No período, os ativos com risco-Brasil originados na subsidiária brasileira mais do que triplicaram - passaram de US$ 360 milhões para US$ 1,3 bilhão. Mais recentemente, o patrimônio líquido foi ampliado, de US$ 90 milhões para US$ 210 milhões. "Queríamos ter limite de até US$ 50 milhões por cliente no mercado doméstico e precisávamos de mais capital", diz

Segundo Assis, um grande foco da atividade do ING hoje é a área de financiamento à exportação de commodities. "Tínhamos dois funcionários dedicados à atividade, mas hoje são dez", conta. Inicialmente, o banco focou sua atuação no setor de soja, mas hoje realiza operações nos setores de açúcar, álcool, algodão, café e tabaco. "Acompanhando o crescimento das exportações brasileiras, devemos crescer mais nesse segmento", diz Alexandre Rezende , responsável pela área de corporate e banco de investimento do ING.

O banco acaba de fechar um empréstimo de US$ 30 milhões à Maeda, a maior empresa de algodão do Brasil, a primeira operação de prazo de vencimento em três anos de captação externa da empresa. Liderado pelo ING, o empréstimo contou com a participação do ABN Amro, BES e HSH Nordbank. Assis afirma que o setor agrícola brasileiro está se profissionalizando, o que permite que os bancos aumentem sua disposição para assumir o risco de crédito dessas empresas. "Podemos agora fazer financiamentos sem uma estrutura tão rígida", diz.

Segundo Rezende, o banco também está priorizando os financiamento de projetos, financiamentos estruturados e empréstimos para aquisições alavancadas, além da área de banco de investimento. Ele lembra da oferta feita pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para comprar a Corus, na qual o ING disponibilizou US$ 3,5 bilhões em empréstimo-ponte à empresa. "Como atuamos em 60 países, podem ajudar a identificar oportunidades, e nossa nossa capacidades de crédito permite alavancagem", continua.

Segundo ele, o acesso crescente das empresas brasileiras ao mercado de capitais local e internacional é uma outra mudança importante, que cria oportunidades. Não é à toa que a tesouraria do ING, sob o comando de Marta Alves, teve reforço. "Organizamos a nossa área de títulos da dívida externa, que passou a trabalhar em conjunto com Nova York e ter reconhecimento pelo tesoureiro global do ING, Philippe Follebuckt", diz Marta Alves.

Em captações externas, incluídos empréstimos sindicalizados e bônus, o ING liderou US$ 1,297 bilhão para empresas, bancos e governo brasileiros em 2006, quase três vezes os US$ 461,6 milhões realizados em 2005, segundo o "Ranking Valor de Captações Externas". A tesouraria também é responsável pela emissão de títulos locais e operações estruturadas em reais, como por exemplo os FIDCs, Fundos de Investimento em Direitos Creditórios, a securitização à brasileira. Também tem realizado operações de derivativos, Cédulas de Crédito Bancário e Certificados de Recebíveis Imobiliários, entre outros tipos de produtos.

O ING acaba de liderar a emissão de R$ 25 milhões em Certificados de Direitos de Créditos Agrícolas da Torre. O banco também esteve à frente do FIDC da Cobra, no total de R$ 250 milhões, de três anos com amortizações, no qual foram securitizados os contratos e serviços da empresa de informática com o Banco do Brasil.

Na área de fusões e aquisições e reestruturações de empresas, o ING foi assessor dos acionistas de Mantecorp, empresa de capital nacional, na formação desta empresa, via a restruturação das operações da Schering-Plough, empresa americana, no Brasil. O ING foi também assessor dos acionistas da Usina Santa Luiza, de Matão, na venda desta empresa para o consórcio formado por Cosan, Usina São Martinho e Usina São José.

O banco de capital holandês assessorou a B5, empresa da família de Luiz Biagi, no exercício do direito de preferência na Usina Vale do Rosário. "Atualmente, ajudamos o Grupo Santa Elisa e a B5 na implementação da fusão das empresas", conta Rezende. "Já somos um dos principais bancos em fusões e aquisições no país", diz.

Em fevereiro, o ING assessorou a Usina Santa Elisa, do grupo Biagi, e a Global Foods, empresa holandesa de trading de açúcar, na formação da CNAA (Companhia Nacional de Açúcar e Álcool). A CNAA é uma sociedade para o desenvolvimento de quatro novos projetos no total de R$ 250 milhões. A Santa Elisa entrou com 20% de capital e levantou os restantes 80% em participações com quatro fundos - Carline, Riverstone, DAC e Discovery Fund Quantum, do megainvestidor George Soros. "É um exemplo do que está acontecendo no setor - uma parceria entre a tecnologia local e o capital dos fundos de private equity", avalia Assis.

Apesar da ampliação de suas atividades, o número total de funcionários do ING não mudou: se manteve em 110 pessoas. "Mudamos o perfil do banco: cortamos pessoal de suporte em cerca de 15%", diz Assis. A estratégia foi centralizar as três áreas do chamado back office: liquidação, custódia, tecnologia, controladoria e contabilidade. "Quando você quebra muros entre as áreas, vê um importante ganho de escala e sinergia", afirma o presidente do ING.

Diferentemente do que acontece com a concorrência, no entanto, o ING não quer entrar na área de assessoria à emissão inicial de ações (IPO). "Podemos ajudar a preparar a empresa para o IPO e a vender ações no mercado externo, mas abrir uma corretora no Brasil hoje é muito caro", avalia Assis.