Título: A vida após os 50
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2007, EU & Investimentos, p. D1

Mais rápido do que muitos esperavam, o Índice Bovespa superou a barreira psicológica dos 50 mil pontos. E a onda otimista que varreu o mercado ontem, puxando a bolsa e derrubando os juros futuros, só não jogou o dólar para baixo dos R$ 2,00 porque o Banco Central (BC), com todas suas forças, fechou o gol e não deixou a moeda cair, comprando dólar e vendendo contratos de swap cambial. A questão é: e agora?

Nesse nível, as projeções das corretoras de o Ibovespa atingir 55 mil, 60 mil pontos no fim do ano parecem mais palatáveis. Mas uma alta dessas, com essa velocidade, de 14,41%, em praticamente dois meses, de março para cá, aumenta consideravelmente também a expectativa de uma realização de lucros. Para o investidor, o melhor é ir com cuidado e não se deixar levar pela euforia, principalmente porque os ganhos potenciais em bolsa ficaram menores.

Estamos vivendo um mercado absolutamente exuberante, resume o ex-diretor do BC e sócio da Mauá Investimentos Luiz Fernando Figueiredo. Ele acredita, porém, que é hora de ser um pouco mais conservador. "Não estou indo contra o mercado, pois nunca se sabe aonde esse movimento acaba, mas não encontro muito mais prêmio nos ativos", diz. Assim, a ordem é reduzir o risco e fazer menos apostas longas nas tendências dos mercados. Figueiredo acha também que o BC deve vencer a batalha contra o dólar abaixo de R$ 2,00. "Ontem, o BC comprou uns US$ 3,5 bilhões entre swap e dólar à vista, e mostrou que não vai ser tão fácil ganhar dinheiro apostando na valorização do real", diz.

A alta da bolsa reflete vários fatores, entre eles a forte liquidez internacional e o crescimento das economias mundial e brasileira, que atraem recursos para o Brasil, afirma Mônica Araújo, chefe de análise da Ativa Corretora. Em abril, o saldo de estrangeiros na Bovespa foi positivo em R$ 1,214 bilhão, elevando o total no ano para R$ 1,517 bilhão. Além disso, há maior procura de investidores locais. No mês passado, segundo dados preliminares da Bovespa, o número de investidores cadastrados no sistema de negociação via internet home broker passou dos 100 mil pela primeira vez. "Por isso o Ibovespa atingiu esses níveis".

Mônica acredita que podem ocorrer ajustes de curto prazo, dependendo do fluxo de estrangeiros e dos indicadores americanos. "Mas, no longo, continuo com tendência positiva", diz ela, que mantém a projeção para o Ibovespa no fim do ano em 53.400 pontos. "Poderia ser maior, pelo risco-Brasil ter caído, mas mudamos a projeção só em dezembro e junho."

No curto prazo, o investidor que já teve um lucro elevado poderá antecipar uma realização, trazendo queda para a bolsa, afirma Felipe Cunha, da Brascan Corretora. Mas a tendência de longo prazo é de alta, diz ele, que está revendo a projeção para o Ibovespa, de 58 mil pontos em 12 meses. Ele lembra que a bolsa brasileira, apesar da alta recente, ainda tem preços atrativos. A relação Preço/Lucro, que dá uma idéia de em quantos anos o investidor teria o retorno de seu investimento, no caso do Ibovespa, está na casa das 10 vezes, para 16 vezes do índice S&P. Mas é preciso ainda acompanhar vários fatores, como a rentabilidade das empresas brasileiras, que divulgam neste mês os resultados do primeiro trimestre. E o comportamento da economia dos EUA e da China, que afeta diretamente os papéis das exportadoras brasileiras. "Não há consenso que não há risco de recessão nos EUA."

A volatilidade vai continuar diante da forte oscilação dos preços das commodities e dos índices das bolsas americanas, explica Frederico Meinberg, diretor de renda variável da Link Corretora. E uma realização de 5% a 10% como ocorreu em maio do ano passado e ensaiou ocorrer em fevereiro deste ano é absolutamente saudável e não interfere na projeção da Link, de um Ibovespa acima de 60 mil pontos em dezembro, diz. "O fluxo de recursos deve continuar para os emergentes em geral e o Brasil está se destacando entre eles, com a compra de dólares aumentando as reservas e a solvência do país."

O mundo está muito líquido e isso deve manter a bolsa brasileira volátil, acredita Catarina Pedrosa, da Banif Corretora. Ela tem uma projeção de 50.500 pontos para o Ibovespa e ainda avalia se vai mudá-la. "E, mesmo se revisarmos, não vai ser muito acima disso" diz. Ela quer evitar o que ocorreu no ano passado, quando várias corretoras puxaram as projeções para 55 mil, número que não se confirmou. (Colaborou Danilo Fariello)