Título: BC e mercado buscam realinhar juros
Autor: Pinto, Lucinda
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2013, Finanças, p. C2

Em meio a mudanças de expectativas, mensagens truncadas e opiniões divergentes, elementos que explicam a forte volatilidade recente, o mercado foi procurar junto a diretores do Banco Central (BC) alguma direção sobre o rumo da política de juros. Os encontros, marcados a pedido dos agentes, ocorreram nos últimos dias e prosseguiram ontem, antes do tradicional período de silêncio que antecede reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Esse tipo de reunião é praxe: quando querem ajustar seu cenário, representantes de instituições financeiras agendam encontros para ouvir dos diretores do BC análises sobre a evolução da economia. O que é pouco comum é que esses encontros ocupem tanto as discussões nas mesas de operação, nem que alterem o rumo dos preços do mercado de forma tão intensa como se observou nesta semana.

Representantes de bancos, corretoras e gestoras de recursos estiveram a portas fechadas com diretores do BC. E saíram das conversas com a percepção de que o início do ciclo de aperto monetário sinalizado nas últimas semanas não virá na reunião do Copom da semana que vem. A sensação é que o comunicado que o Comitê divulgará na quarta-feira não mudará radicalmente o discurso, como esperavam participantes do mercado.

A expectativa é que os diretores mantenham a referência à estabilidade do juro por "período suficientemente prolongado", mas ressalvem que isso vale "neste momento". É possível que, com isso, o BC sinalize um ajuste na taxa Selic mais brando, provavelmente de 0,25%, do que analistas chegaram a imaginar.

A leitura do cenário traçado por esses interlocutores - queda de preços dos alimentos e desaceleração da inflação no segundo semestre - vem, aos poucos, dando algum alívio aos contratos futuros de DI e também ao tom usado pelos agentes quando falam de juros. Ontem, essa foi uma das principais explicações apresentadas por agentes para a queda dos juros projetados - a terceira seguida na semana.

"O mercado estava começando a colocar no preço a ideia de que o juro já subiria em março, mas a mensagem dos diretores nessas conversas foi de que é preciso ter calma para avançar nas apostas", diz um analista que participou de um encontro com o BC. "Ficou parecendo que o BC se assustou com o avanço das apostas do mercado."

Desde o início de fevereiro, o mercado vem demonstrando exageros nos movimentos de juros. Mas essa volatilidade crescente é reflexo de sinalizações contraditórias que têm partido da própria equipe econômica.

Exemplo disso foi o que se viu segunda-feira, quando o mercado reagiu a declarações do presidente do BC. Logo cedo, os juros subiram após entrevista ao "The Wall Street Journal" em que Alexandre Tombini disse estar "monitorando os desdobramentos [da inflação] atentamente". A expressão foi incluída pela primeira vez em comunicados do BC em março de 2008, antes da alta de juros na reunião de abril daquele ano.

À tarde, entretanto, o mesmo Tombini fez um discurso público, em Nova York, no qual enfatizou que a inflação deveria recuar no segundo semestre, jogando um "balde de água fria" nas apostas mais firmes de aperto monetário. "Acho que esse discurso do BC tirou a iminência da alta de juros", afirmou um agente. Para ele, o BC já vinha mudando o discurso desde janeiro, quando divulgou a ata do Copom com uma ênfase maior na evolução da inflação. "Mas como o mercado desconsiderava totalmente a hipótese de alta de juros, houve muita correção e exagero", diz o profissional.

De fato, Tombini colocou na cena a possibilidade de subir os juros no dia 7 de fevereiro, quando falou pela primeira vez que está "desconfortável" com a inflação. O mercado considerava que a atividade, e não a inflação, nortearia as decisões de política monetária e a declaração provocou uma forte alta das taxas futuras. O que confunde agentes desde então é que, para cada sinal de alta de juros, o BC parece sempre baixar o tom em seguida. Naquele mesmo dia, Tombini veio a público para dizer que o "suficientemente prolongado" citado pela ata, como referência ao período de estabilidade da Selic, continuava valendo.