Título: Expectativas sobre OPA da mina fazem ação subir 5,6%
Autor: Goulart, Josette e Baeta, Zínia
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2007, Legislação & Tributos, p. E1

Um dia após a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) obter a penhora de recursos da CSN, que seriam usados para o pagamento de R$ 685 milhões em dividendos, as ações da empresa dispararam na Bovespa. Os papéis tiveram alta de 5,65% e fecharam o dia negociados a R$ 99,00, configurando-se como a segunda maior alta do Ibovespa. Segundo explicações da companhia para o mercado, os acionistas não levarão "calote".

Mas outro fator contribuiu bastante para essa alta inesperada, segundo apurou o Valor - as expectativas sobre a cisão da mina ferro na Casa de Pedra, da CSN. Ontem, foi feita uma apresentação detalhada do projeto por Otávio Lazcano, diretor financeiro da siderúrgica, a 450 investidores globais reunidos em Dublin, capital da Irlanda, na Conferência Global de Mineração e Siderurgia, em evento patrocinado pela Merril Lynch.

Lazcano informou ainda que a empresa planeja fazer uma oferta primária de ações (OPA) de 20% a 30% da empresa que terá Casa de Pedra como principal ativo por volta do terceiro trimestre deste ano. Na Bolsa de Nova York, os ADRs da CSN tiveram alta de 6,16%, fechando a US$ 49,30.

Lazcano confirmou que o projeto de expansão de Casa de Pedra atingirá a capacidade de produzir 53 milhões de toneladas por ano em 2010. E segundo o executivo, a empresa atingirá também vendas de 15 milhões de toneladas anuais de minérios de terceiros, por meio da subsidiária Nacional Minérios (Namisa), iniciada em fevereiro, com 50% de margem bruta.

Isso, mais a perspectiva da oferta de ações (OPA) e recomendações de compra e projeção de preço da ação de CSN para R$ 135,00 feitas em relatório pela Merril Lynch, tiveram efeito surpreendente sobre as negociações dos papéis da siderúrgica, como avalia Rodrigo Ferraz, analista de mineração e siderurgia da Corretora Brascan. "As pessoas continuam de olho nesta OPA", afirmou. A seu ver, o fato de a CSN anunciar na Irlanda sua disposição de fazer a OPA de Casa de Pedra puxa automaticamente a ação da CSN. "Casa de Pedra é como se fosse um valor escondido dentro da CSN", explicou. "O valor de Casa de Pedra acaba resvalando a favor das ações da empresa".

A intenção inicial de Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente da CSN, de fazer a OPA na Bolsa de Londres estaria sendo revista. O grande risco deste negócio, que não é ignorado pelo mercado, é a questão extremamente relevante de como a CSN vai lidar com o direito de preferência da Vale do Rio Doce sobre o excedente do minério de Casa de Pedra (acordo de 2001, por 30 anos). "Só não atrapalha o IPO se a CSN mostrar efetivamente como vai lidar com o problema, ou seja, como ela vai vender este minério para terceiros", observou Ferraz.

Na apresentação, Lazcano disse que a CSN iniciou operações de venda minério com produto de outras minas até ter uma solução do caso da Vale, que contesta decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) na Justiça. Hoje, no evento, será a vez da Vale vender seu peixe, por meio de presidente, Roger Agnelli. Ele pode se posicionar inclusive sobre a intenção da Vale de participar ou não da OPA de Casa de Pedra, pois detém direito de preferência.

No Brasil, a empresa informou ao mercado que os recursos financeiros para a ação fiscal da Fazenda já foram provisionados no balanço, com impacto em resultados de exercícios anteriores. Não devem, portanto, influenciar o desempenho futuro, segundo relatório da Planner. A CSN não informou nova data para pagar o dividendo, mas tem caixa para honrar a obrigação. Fechou o primeiro trimestre com R$ 77,5 milhões e mais R$ 3,1 bilhões em títulos de curto prazo.

A Planner recomenda a compra do papel e projeto preço-alvo de R$ 106,79, o que embute potencial adicional de valorização de 8%. Na ponta de compra na Bovespa estiveram, à frente, Socopa e Prime. "A CSN deu o pontapé para a alta do mercado", disse o assessor de investimentos da Prime, Genaro di Marino, referindo-se à valorização de 2,03% do Ibovespa. Nas ordens de compra recebidas pela corretora, investidores locais foram mais ativos. A Itaú Corretora projeta preço de R$ 105,20 e a ABN Amro Real Corretora de R$ 119,32.