Título: Grillini mudam perfil do Parlamento italiano
Autor: Moloney, Liam
Fonte: Valor Econômico, 01/03/2013, Internacional, p. A13

Os membros da elite política da Itália costumavam dar pouca importância a Beppe Grillo, o comediante que virou político-ativista, vendo-o como um arrivista extremista que não faria nada de positivo para o país. Agora, a piada já não tem tanta graça. Grillo está sendo cortejado como um campeão no fragmentado ambiente político da Itália depois das eleições nacionais, e ele tem demonstrado pouca paciência.

Cada vez mais, Grillo parece ser o único vencedor real das eleições da Itália, e ele e as dezenas de legisladores sem experiência que ajudou a eleger podem ser a chave para definir o próximo governo italiano - como será formado, quanto tempo vai durar e até quanto conseguirá avançar, ou se fará qualquer progresso.

O partido de Grillo, o Movimento 5 Estrelas, ganhou 25% do voto popular e está prestes a colocar 163 legisladores no Parlamento. Com 54 cadeiras no Senado, o partido é grande o suficiente para forçar a principal coalizão política da Itália - liderada pelo Partido Democrata, de centro-esquerda - a formar um governo somente se puder forjar uma aliança com Grillo ou com seus arquiinimigos, a centro-direita de Silvio Berlusconi.

Os parlamentares do partido de Grillo - conhecidos como "grillini" - representam um choque em um ambiente político fechado composto em grande parte de políticos de carreira. Entre os grillini que se tornarão parlamentares no dia 15 de março estão universitários diplomados desempregados, professores e enfermeiros. Esse influxo transformará o Parlamento no mais jovem e com o maior número de mulheres da história do país, de acordo com o braço de pesquisa da Coldiretti, uma entidade agrícola local.

Grillo rejeitou a ideia de uma aliança com outros partidos. Mas como ele mesmo não vai ocupar um assento no Parlamento, seu papel será mais o de um diretor de orquestra do que um general de exército. Ainda não está claro que nível de disciplina e coesão será exercido entre os novos parlamentares de seu partido.

Na terça-feira, Pier Luigi Bersani - cujo Partido Democrata conquistou a maioria dos votos na Câmara, o que dá ao grupo poder para tentar formar um governo - disse que seu partido iria tentar armar um governo centrado na aprovação de leis para reduzir os gastos da elite política da Itália, em mudanças nas leis eleitorais do país, no combate à corrupção e na introdução de uma lei que lide com possíveis conflitos de interesses entre empresas e políticos.

As palavras de Bersani foram interpretadas como uma abertura suave para Grillo, cuja plataforma incluía muitas das mesmas ideais.

Na quarta-feira, Grillo fez uma firme repreensão - escrevendo em seu blog que considerava Bersani como um "molestador político que está assediando o M5S [Movimento 5 Estrelas] com propostas indecentes."

O fracasso em formar um governo com um respaldo parlamentar garantido poderia, no entanto, levar os italianos de volta às urnas, um resultado que, segundo muitos parlamentares do 5 Estrelas, representaria uma oportunidade perdida de cumprir a plataforma antielite política e pró-mudança.

No blog de Grillo, uma ferramenta fundamental de sua campanha, seus seguidores pareciam divididos sobre a possibilidade de fazer um acordo para dar a Bersani o apoio que ele precisa para formar um governo.

"Eu acredito que permitir a formação de um novo governo é um dever para muitos eleitores", escreveu um partidário identificado como Natalino Lanzara. "Uma vez que o governo seja formado, então podemos trabalhar em propostas individuais."

Os legisladores de Grillo poderiam, de fato, ajudar a colocar no poder um governo formado por Bersani sem realmente votar a seu favor. Segundo as regras do Senado italiano, os parlamentares podem deixar de participar de um voto de confiança, permitindo que o quórum no Senado abaixe e, portanto, efetivamente ajudar na passagem do voto de confiança. Alguns grillini disseram que pretendem ser fortes defensores das leis, considerando cada caso individualmente.

"Eu certamente não gosto de acordos de bastidores" para forjar maiorias governamentais, disse Stefano Vignaroli, de 36 anos, membro romano do Movimento 5 Estrelas que foi eleito para a Câmara dos Deputados. "Mas, se um projeto é bom, eu não me importo com quem fez a proposta [...] Por que eu não votaria por ele?"

Vignaroli, um técnico de vídeo da estatal italiana RAI, estava entre as dezenas de fiéis seguidores do 5 Estrelas que postaram vídeos de candidatura online. Aqueles que receberam o maior número de cliques de outros partidários em uma votação no ano passado ganharam um lugar na cédula do partido, parte de um processo de "democracia direta" orquestrado por Grillo.

Vignaroli diz que não terminou a universidade e se tornou, nessa época, um ativista para combater um aterro sanitário local. Ele informou que está passando os dias antes de assumir sua vaga no Parlamento estudando economia e os direitos dos homossexuais.