Título: Renda agrícola mundial cresce, mas se concentra
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2007, Agronegócios, p. B11

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) divulgou, durante reunião do Fundo Comum de Commodities (CFC), um cenário bastante animador para os produtores agrícolas, sobretudo da América Latina. As avaliações do organismo indicam que haverá um impacto positivo na receita do setor rural em função da elevação da demanda mundial por alimentos no médio prazo.

Pelas projeções, devem ganhar espaço commodities como carnes, lácteos, frutas e vegetais, segundo a Unctad. "Por outro lado, a demanda por grãos deve sofrer, ainda que os efeitos do aumento da produção de biocombustíveis seja difícil de prever", afirmou Olle Ostensson, chefe do Escritório de Commodities da Unctad. Em melhor situação estarão produtos de consumo final e para nichos de mercado, como orgânicos.

Para a Unctad, há, entretanto, uma tendência de acumulação da renda nos últimos elos da cadeia e o risco de uma "distribuição assimétrica" do poder de barganha no setor. O aumento no consumo mundial de alimentos per capita será liderado pelos países em desenvolvimento, cuja necessidade diária deve saltar de 2,68 mil quilo calorias, em 1999, para 2,85 mil em 2015 e para 2,98 mil em 2030.

Na América Latina, a demanda passará de 2,82 mil para 3,14 mil kgcal/dia em 2030. Na Ásia, chegará a 3,19 mil. "A população dos países mais pobres continuará a crescer de maneira rápida", analisou Ostensson. "E a composição do consumo de alimentos muda na mesma proporção da elevação da renda, e isso implica num incremento da produção agrícola".

O especialista da Unctad ressalta que a produção de biocombustíveis, comemorada em todos os cantos do mundo, tem se tornado um mercado significativo para o "duplo uso" produtivo, mas alerta que o produto começa a afetar as condições de produção para outras culturas por meio de um aumento dos preços da terra. "Isto é preocupante", disse Ostensson.

Pelas projeções do organismo internacional, o mercado mundial de commodities será dominado pelas exportações para a Ásia. As vendas da América Latina para todos os destinos crescem rapidamente e o comércio intra-regional Sul-Sul, à exceção da África, mostram um forte crescimento. "Há um enorme potencial para o crescimento [das commodities]. Mas a questão é como alcançar isso", questionou Ostensson.