Título: Câmbio não muda se juro cair, diz estudo
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2007, Finanças, p. C3

Um estudo dos economistas Adauto Lima e Marcelo Moura, do Ibmec São Paulo, mostra que a redução dos juros básicos da economia não é garantia de que a taxa de câmbio irá parar de se apreciar. Eles aplicam cinco modelos consagrados pela literatura econômica e descobrem que, no Brasil, quando os juros baixam, o câmbio se aprecia também.

"Muitos economistas, empresários e a opinião pública em geral esperam que, baixando os juros, vai automaticamente desvalorizar a taxa de câmbio", afirma Moura. "Nosso trabalho conclui que não é bem assim."

No trabalho, os juros usados são a diferença entre as taxas nos Estados Unidos e no Brasil. O resultado não significa, porém, que a queda de juros provoca a apreciação do câmbio - ou seja, que existe uma relação de causa e efeito entre uma coisa e outra (a teoria econômica diz justamente o contrário). Na verdade, os economistas sugerem que, desde a adoção do regime de câmbio flutuante, os juros baixaram quando os fundamentos econômicos melhoraram, e essa melhora de fundamentos também produziu a apreciação cambial.

O estudo descobre que fatores como risco-país e liquidez internacional têm um peso muito mais importante para determinar a taxa de câmbio. Uma queda de 10% no risco Brasil, por exemplo, leva a uma apreciação entre 2% e 3% na taxa de câmbio, dependendo do modelo econômico utilizado. Um aumento de 10% na liquidez internacional (medida por um indicador de volatilidade, o VIX) produz apreciação de 1% no câmbio.

Os economistas chegam à conclusão de que a variação das cotações de "commodities" não tem influência sobre a taxa de câmbio. "Foi uma surpresa", afirma Moura. Os termos de troca (ou seja, a relação entre os preços de produtos exportados os de importados) tem uma influência mais relevante. "As 'commodities' são importantes, mas não são majoritárias nas exportações", afirma Moura.

As conclusões do estudo, de certa forma, confirmam os argumentos que vêm sendo apresentados pelo BC para explicar a apreciação cambial. A autoridade monetária sustenta que, se os juros têm algum papel na apreciação cambial, ele é pequeno; na verdade, a taxa estaria caminhando para um novo patamar em virtude da melhora da percepção de risco e da melhora dos termos de troca do país.

Uma das conclusões do estudo, porém, vai contra o que vem sendo dito pelo BC - que as intervenções no mercado de câmbio são neutras e não visam a determinar a taxa de câmbio.

Os economistas mostram que, quando o BC aumenta seus ativos líquidos em dólar (por meio da compra de dólares em mercado ou da venda de "swaps" cambiais reversos), a taxa de câmbio se desvaloriza de maneira permanente. Cada aumento de 10% nos ativos em dólar equivale a uma desvalorização entre 0,6% e 0,8% na taxa de câmbio, dependendo do modelo econômico usado.

As conclusões do trabalho ("Adequação de modelos empíricos da taxa de cambio: uma aplicação para a economia brasileira") valem apenas para prazos superiores a seis meses. Eles verificaram que, para períodos como um mês ou três meses, a taxa de câmbio é definida por fatores aleatórios. Ou seja, o dólar tem chances mais ou menos iguais de subir ou descer, dependendo das novas informações e dos volumes de entrada de recursos no mercado. Em prazos iguais ou superiores a seis meses, esse fatores aleatórios se anulam, e os fundamento econômicos prevalecem sobre o câmbio. O Brasil é um caso especial. Em países desenvolvidos, a taxa de câmbio costuma ser explicada mais por movimentos aleatórios do que por fundamentos econômicos.