Título: Temer negocia reforma com presidente
Autor: Ulhôa, Raquel; Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2013, Política, p. A9

O vice-presidente Michel Temer, reconduzido à presidência nacional do PMDB por mais dois anos, em convenção nacional realizada sábado em Brasília, começa a negociar com a presidente Dilma Rousseff eventual reforço na participação do partido no governo até 2014. A reunião entre os dois partidos para tratar do assunto está prevista para esta semana, provavelmente amanhã.

O encontro foi marcado pela presidente na semana passada. Depois de tratar do assunto com Temer, Dilma vai conversar sobre a possível reforma ministerial em curso com os outros partidos de sua base de apoio. No caso do PMDB, a própria presidente afirmou a seu vice, em 2012, que o PMDB estava "sub-representado" em seu governo, o que alimentou a esperança de uma participação maior da sigla.

O PMDB tem a expectativa de ganhar mais um ministério (ou trocar alguma de suas pastas por outra com mais apelo eleitoral) e cargos em estatais ou em escalões inferiores em outras pastas. O partido tem hoje cinco ministérios (Agricultura, Minas e Energia, Turismo, Assuntos Estratégicos e Previdência), considerados politicamente pouco interessantes. Um dos alvos dos pemedebistas é o Ministério dos Transportes. Seria entregue à bancada mineira, como compensação da presidente ao PMDB do Estado, que abriu mão de lançar candidato próprio a governador em 2012 para apoiar o PT.

Mas outros deputados do PMDB pleiteiam participação em órgãos do governo, com o argumento de que precisam de instrumentos para manter os correligionários unidos em torno da aliança com Dilma. A antecipação do processo eleitoral de 2014 preocupa não só pemedebistas, como os outros partidos aliados do governo, com os quais Dilma conversará depois.

No caso do PMDB, o Ministério dos Transportes é visto como uma pasta importante, com ramificações no país todo e, portanto, "bom instrumento para fazer política", como definiu um dirigente do partido. O assunto está em aberto, mas a presença e a manifestação de Dilma na convenção do partido deixaram os pemedebistas eufóricos.

"Vida longa à nossa aliança, vida longa a essa parceria", disse Dilma, como num brinde à esperada coligação na sucessão presidencial de 2014. Durante toda fala, a presidente fez questão de mostrar a importância da política de coalizão partidária para governar, tanto que o único presidente eleito pelo voto direto, após a redemocratização, que não construiu uma aliança forte não concluiu o mandato. Referia-se a Fernando Collor, hoje seu aliado.

Presidente nacional do PMDB desde 2001, Temer foi reeleito para o quinto mandato consecutivo no comando partidário (três deles foram prorrogados). Após ser reconduzido pelos convencionais, por aclamação, anunciou que voltará a se licenciar da função partidária, para se dedicar à Vice-Presidência da República. Assim, as tarefas partidárias continuarão sendo desempenhadas pelo senador Valdir Raupp (RO), primeiro vice-presidente também reeleito. Temer, no entanto, continuará à frente do comando político do PMDB.

Durante a convenção, um dos elogios mais entusiasmados ao vice partiu do senador José Sarney (PMDB-AP), que atribuiu a Temer a atual unidade do partido. As bancadas do PMDB da Câmara dos Deputados e do Senado têm um histórico de divergências que enfraquecia o partido. Os pemedebistas querem se manter unidos e fortes na parceria com o governo para garantir a vaga de vice na chapa de Dilma em 2014.

A presidente, embora não tenha sido explícita com relação à participação de Temer na vice, fez um longo discurso reforçando a importância do PMDB em seu governo e recheado de elogios ao vice, a quem chamou de "grande parceiro", "amigo" e "excepcional coordenador político", que faz com ela uma "dobradinha que se completa e se complementa". A ênfase mostrada pela presidente nos elogios ao PMDB e a seu vice foi interpretada pelos pemedebistas como disposição de reeditar, nas eleições de 2014, a chapa Dilma-Michel.

Além de eleger os 121 membros do Diretório Nacional e reconduzir quase toda a Executiva Nacional, a convenção do PMDB aprovou dez moções. Uma delas é a deliberação de que o partido terá candidato a governador em todos os Estados. Onde isso não for possível, a posição a ser adotada será decidida pela Executiva Nacional. Outra moção aprovada determina que, nos Estados em que o PMDB lançar candidatura própria ao governo, a Executiva Nacional articulará a garantia de palanque único para a aliança nacional. Essas moções foram apresentadas pela liderança do PMDB na Câmara dos Deputados. Atendem especialmente ao PMDB do Rio, que está em rota de colisão com o PT por causa do lançamento da pré-candidatura do senador Lindbergh Farias a governador. O candidato do PMDB no Estado é o vice-governador, Luiz Fernando Pezão.

Os convencionais do PMDB aprovaram também mudança no estatuto do partido para fortalecer o papel de Temer na mesa de negociações. A alteração foi feita para deixar explícito que o vice-presidente pode acumular no Poder Executivo com a presidência do partido. Até então, o estatuto era omisso sobre a situação dos vices, mas proibia o acúmulo de funções partidárias com demais cargos no Executivo. Com a mudança feita sábado, continua proibido o acúmulo apenas para os cargos de presidente da República, governador e prefeito.