Título: Investidores veem governo mais flexível
Autor: Safatle, Claudia; Borges, Andre
Fonte: Valor Econômico, 04/03/2013, Especial, p. A14

O governo de Dilma Rousseff mostra-se agora mais "agressivo e envolvente" no esforço para atrair operadores e investidores internacionais a participarem dos projetos de US$ 235 bilhões em infraestrutura no Brasil nos próximos anos.

Essa foi a percepção de alguns participantes do "Fórum Brasileiro de Infraestrutura 2013", evento organizado pelo Valor na sexta-feira em Londres, que ouviram com especial interesse as promessas de que os riscos serão mitigados ao máximo. Para um desses executivos, o atual governo mostrou na capital londrina "uma mudança de atitude e o discurso de mobilização mais agressivo e contundente que eu ouvi até hoje em favor do setor privado"

A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, prometeu a uma plateia de mais de 300 investidores que "ninguém vai perder dinheiro se investir no Brasil", e que "o governo quer acertar e está aberto para todos os que quiserem ser parceiros do país".

Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), acenou com condições especiais de crédito dos bancos oficiais para apoiar projetos, mas tambem afirmou que criará condições para os bancos privados compartilharem os riscos.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, disse que os leilões de US$ 74 bilhões no setor elétrico nos próximos cinco anos "são investimentos de longo prazo com uma receita garantida quase tão boa como aplicar num título do Tesouro". Segundo afirmou, "o investidor não tem risco de demanda, o gerador está blindado".

Existe o consenso de que, mesmo para o Brasil crescer moderadamente, precisa desarmar o gargalo da infraestrutura e para isso o setor privado tem peso fundamental. Coutinho notou que cada aumento de 1% na oferta de infraestrutura pode elevar em 0,5% o Produto Interno Bruto (PIB) potencial.

Para Tim Treharne, CEO do Fundo de Infraestrutura Meridiam, de Londres, que teve reunião reservada com Luciano Coutinho, o governo brasileiro deu em Londres uma mensagem de "estar mais aberto a ouvir o setor privado". Ele lembrou que em discussões passadas sobre o projeto do trem de alta velocidade entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro havia a impressão de que ele "era muito complicado, pelo risco que estavam pedindo do setor privado".

Henrique Rzezinski, vice-presidente de assuntos corporativos da British Gas Brasil, disse ter percebido que o governo reconheceu que não tem fôlego para fazer tudo. "E o mercado internacional está com apetite pelo tipo de projetos que o Brasil coloca na mesa", acredita.

Grant Ballantine, da consultoria Allenbridge Epic, declarou-se "impressionado" com os detalhes dados pelos brasileiros. Segundo ele, fundos de pensão britânicos estão interessados em projetos no Brasil. Scott Young, diretor da Dial Partners LLP, de Londres, anunciou que o grupo tem US$ 200 milhões para investir em usinas de energia renovável no Brasil. Disse ainda que tem sido bem sucedida a experiência de investimento de US$ 35 milhões numa usina de energia renovável para atender uma mina de ouro e cidades próximas a ela, em Minas Gerais. "O governo brasileiro está muito aberto ao setor privado", avalia.

Nigel Preston, diretor de "structured finance" da companhia canadense Bombardier, considerou que as explicações do Brasil ocorreram "num momento essencial". Mas ele ainda espera "sinais de mais flexibilidade para redução do risco entre assinatura de concessão e o project finance".

Na mesma linha, a advogada Daniella Nicklin, da área de joint ventures da KPMG, acha que o governo esclareceu melhor os investidores em Londres, sobretudo em relação ao crédito-ponte de seis meses que o BNDES oferecerá entre a concessão e o project finance. "Mas o investidor ainda assume certo riscos", disse.

Para alguns executivos presentes no seminário, outra questão é sobre o relacionamento da Petrobras com novos participantes de licitações no pré-sal, já que a estatal integra todos os consórcios.

Peter J. West, chefe de pesquisa do Pam Global Investments, considerou que as apresentações do Brasil em Londres foram ainda mais interessantes porque "o mercado no momento está mais interessado no México, que promete as maiores reformas em décadas". Mas nota que "não é uma resposta negativa ao Brasil, e sim mais positiva sobre o México".

Participante tanto do seminário de Nova York como do de Londres, o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, resumiu parte do sentimento de participantes: "Percebi que não havia a arrogância de mostrar que as oportunidades são boas, mas sobretudo a postura mais humilde de aprender na troca de ideias, acatando sugestões, mencionando a necessidade de tirar proveito das lições de outras experiências internacionais de sucesso", afirmou. "Posso estar enganado, mas minha intuição é a de que agora o interesse internacional para investimento em infraestrutura vai andar de forma mais consistente."

Em todo caso ainda há restrições para investir em longo prazo no Brasil. "Temos investidores interessados no Brasil, mas alguns têm regras pelas quais só podem investir nos paises da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], por causa de certos padrões (de garantia de investimentos) que seguem", observou Tim Treharne, do Meridiam.