Título: Marina defende que Brasil crie marca de sustentabilidade
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2007, Brasil, p. A6

Se o Brasil conseguir criar uma marca para seus artigos que transmita o conceito de uma produção responsável e com sustentabilidade ambiental, os consumidores podem responder de forma muito positiva. A aposta, feita ontem a uma platéia de 250 empresários reunidos no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo, não foi defendida por um profissional de marketing - partiu da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante palestra no seminário "Créditos de carbono e mudanças climáticas - propostas e desafios para a sustentabilidade ambiental" promovido pelo Valor. "O Brasil é uma potência ambiental e já está sendo cobrado por isso", alertou.

Na mesma linha, Rubens Antônio Barbosa, que foi embaixador do Brasil em Londres e Washington, disse acreditar na "nova força" que é o consumidor mais consciente, e emendou com o comportamento dos europeus, tradicionalmente receptivos a produtos com selos verdes. "Empresas atentas ao ambiente terão mais aceitação no mercado que empresas omissas."

Mas saindo das prateleiras dos supermercados e entrando no cenário macro, o futuro próximo promete turbulências. "A pressão já está configurada, e é forte", disse Barbosa. O pano de fundo são as negociações do pós-2012, ou seja, do segundo período de compromissos do Protocolo de Kyoto, o acordo internacional que restringe as emissões de gases-estufa. Entre 2008 e 2012, a meta de redução de emissões atinge apenas países desenvolvidos. O que se negocia agora é o regime que virá depois. "Dificilmente os países desenvolvidos vão aceitar mais metas de cortes de emissão sem a inclusão das nações em desenvolvimento mais importantes", disse. "O Brasil deveria se adiantar a um movimento que, na minha opinião, é irreversível", prosseguiu, defendendo a idéia de que o país organize uma grande conferência internacional sobre mudanças climáticas, tomando a dianteira do processo, como fez com a Eco-92.

"Vivemos a era dos limites", disse Marina, fazendo referência ao cenário mundial que surgiu com a divulgação dos dados do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU. "Temos que refletir sobre uma nova maneira de ser, de nos relacionarmos com a natureza, de consumir. É uma engenharia nova." Emendou com uma equação que está na ordem do dia: "É com esta aparente oposição entre desenvolvimento e meio ambiente que vamos atravessar este século."

A ministra jogou seus números: com a redução de 51% no desmatamento da Amazônia, obtida nos últimos dois anos, o Brasil deixou de emitir 430 milhões de toneladas de CO2; em 2004, uma mega-operação que contou com a ajuda da Polícia Federal, identificou 1.500 empresas irregulares na Amazônia, reteve 900 mil m3 de madeiras ilegais e prendeu 1.500 envolvidos em crimes ambientais (entre eles, 116 servidores do Ibama). Citou o Plano Nacional de Prevenção e Combate ao Desmatamento, que envolve 13 ministérios e é coordenado pela Presidência. E elencou outros programas e ações ambientais para ilustrar como o país faz sua lição de casa. Avisou que, em 90 dias, serão divulgados os nomes dos novos presidentes do Ibama (o chefe da PF, Paulo Lacerda, foi convidado) e do Instituto Chico Mendes, que cuidará das unidades de conservação. Deixou no ar uma idéia realista: "O cenário do aquecimento global não pode ser encarado como algo tão grande que paralise a todos, nem como algo tão simples que banalize a gravidade do problema."

Ronaldo Weigand, coordenador do Programa Áreas Protegidas da Amazônia, o Arpa, explicou como anda o projeto criado em 2002. A meta era criar 37,5 milhões de hectares de unidades de conservação na região, além de tirar do papel as já existentes. "Isso significa uma área de 50 milhões de hectares. É maior que a Espanha e dez vezes superior ao território da Costa Rica", ilustrou. Em 4 anos, o Arpa criou 20 milhões de hectares de novas unidades e continua no desafio de captar recursos para protegê-las e desenvolvê-las. A pressão para desmatar está sempre ali. "O desmatamento é meio líquido", ilustrou. "Sempre vaza para lugares não fiscalizados."

No mercado de créditos de carbono, o Brasil ocupa a 3ª posição, depois da China e da Índia. "Mas é um terceiro lugar deste tamanhinho", disse Marco Antonio Fujihara, diretor da divisão de sustentabilidade do Instituto Totum, que trabalha no segmento. Ou seja, a China tem 61% do mercado de créditos de carbono, e o Brasil, modestos 4%. Aqui, a idéia é que se formalize um marco regulador que torne mais claras as regras do jogo. A Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) deve fazer o primeiro leilão de créditos no segundo semestre deste ano.