Título: País pode crescer e reduzir CO2, mostra estudo
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2007, Brasil, p. A5

O Brasil tem potencial para expandir a economia e, paralelamente, reduzir a taxa de crescimento das emissões de gás carbônico (CO2) na área energética. Estudo feito pela Coppe/UFRJ indica que o país poderia chegar a 2020 com emissões 29% menores de CO2 do que elas seriam naquele ano, caso alternativas ao petróleo não fossem desenvolvidas no setor energético. O CO2 é um dos principais gases responsáveis pelo aquecimento da terra.

Emílio La Rovere, do programa de planejamento energético da Coppe/UFRJ, diz que programas em curso no país, como do álcool e do biodiesel, permitiram que as emissões de CO2 no setor energético fossem 14% menores do que seriam em 2020, caso as iniciativas em desenvolvimento não existissem. A Coppe também fez projeções mostrando que se outros programas forem aprofundados, caso das fontes alternativas de energia e da eficiência energética, a redução na taxa de crescimento das emissões, em 2020, seria de mais 15%.

Na soma das iniciativas chega-se à emissão 29% menor de CO2 no setor energético. "Isso é o que se chama de quantificação das emissões evitadas", disse Rovere. Ou seja, as emissões, que de acordo com tendências históricas ocorreriam, deixam de ser verificadas em função de políticas governamentais ou de iniciativas de empresas privadas.

Rovere é um dos brasileiros que participaram da elaboração do último relatório sobre mudanças climáticas das Nações Unidas, divulgado em 4 de maio. O documento mostra que o custo para evitar mudanças climáticas sérias é de 0,12% do PIB global ao ano até 2030. Se até lá as emissões de gases continuarem a crescer, a temperatura da terra aumentaria 3º C, em 2100.

"A mensagem central do relatório é que o custo da inação deve ser bem maior do que o custo de aceitar a limitação das emissões", disse Rovere. Ele e os demais pesquisadores brasileiros envolvidos no projeto da ONU participaram ontem de seminário, na Coppe, que discutiu a mitigação de mudanças climáticas. Rovere afirmou que o Brasil tem condições de implementar programas de redução de emissões de gases de efeito estufa financiados por recursos externos.

Ele antecipou que o governo brasileiro deve levar à reunião do G-8, em junho, na Alemanha, proposta já apresentada em Nairobi, no Quênia, ano passado, segundo a qual países desenvolvidos poderiam financiar o controle do desmatamento em países em desenvolvimento.

Durante o debate, Rovere e Roberto Schaeffer, outro dos pesquisadores brasileiros que participaram do relatório das Nações Unidas, discordaram sobre a forma de reduzir o desmatamento no Brasil. Schaeffer defendeu a fixação de metas para reduzir os níveis de desmatamento no Brasil. Rovere afirmou que não seria interessante, para o país, assumir metas de redução do desmatamento para a segunda fase do Protocolo de Kyoto, após 2012.

Ao avaliar as conclusões do relatório, Schaeffer afirmou que "é mais barato atacar o problema (do aquecimento global) do que sentar e esperar o problema recrudescer". Em conversa com jornalistas, após o debate, Schaeffer negou que a energia nuclear seja uma alternativa viável para o Brasil ("é fonte cara de geração"), e criticou a decisão da Companhia Vale do Rio Doce de investir em termelétricas a carvão: "O que é bom para a Vale não quer dizer que seja bom para o Brasil."

José Roberto Moreira, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), disse que o aumento na produção de álcool tem potencial para incrementar a captura de CO2 da atmosfera. Ele disse que a produção do etanol gera gás carbônico que hoje, em grande medida, é jogado na atmosfera. Segundo ele, é possível desenvolver projetos para despejar o CO2 em reservas de água salina subterrâneas a 700 metros de profundidade do solo. Moreira disse que, neste modelo, a produção de álcool iria gerar emissão de CO2 "negativa". "Para cada litro de etanol produzido, meio quilo de CO2 seria removido da atmosfera", afirmou Moreira.