Título: Visto para brasileiro racha governo britânico
Autor: Warrell, Helen; Parker, George
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2013, Internacional, p. A13

A ministra do Interior do Reino Unido, Theresa May, deverá sofrer oposição de colegas de gabinete, hoje, devido a suas propostas no sentido de impor novas restrições à concessão de vistos para brasileiros, evidenciando as tensões entre a busca de crescimento econômico e a necessidade de reconhecer a preocupação da opinião pública em relação à imigração.

O plano de May de tornar mais exigentes as regras para concessão de vistos a brasileiros representa um sério teste para a coalizão, ao tentar equilibrar as duas prioridades conflitantes. Outros ministros temem que a decisão lançará uma sombra sobre as relações com a economia em rápido crescimento que David Cameron citou como sendo um parceiro comercial fundamental para o Reino Unido.

O Ministério do Interior (Home Office) já enfrenta críticas de operadoras turísticas e de varejistas de artigos de luxo, segundo as quais a complexidade para obtenção de um visto de turista na China está impedindo visitas de chineses.

Cameron e Nick Clegg, o vice-premiê, já visitaram o Brasil depois de tomar posse e tentaram fortalecer os laços comerciais, mas May acredita que o país é uma fonte significativa de imigração ilegal.

May deverá enfrentar dura oposição, em reunião do Conselho de Segurança Nacional, quando defender o fim do acordo atual, que atualmente permite aos brasileiros visitar o Reino Unido durante até seis meses sem necessidade de visto. A sugestão de May é formulada quando outros países, como os Estados Unidos e a Austrália, estão fazendo o percurso oposto, ao flexibilizar as restrições à concessão de vistos a brasileiros.

William Hague, o chanceler, e George Osborne, o ministro das Finanças, estão entre aqueles que já entraram em confronto com May no que diz respeito ao regime de concessão de vistos praticado pelo Reino Unido.

"O Home Office é favorável a novas restrições à concessão de vistos, mas todo o restante do gabinete é, basicamente, contra", disse uma pessoa envolvida nas discussões.

Outra sugeriu que a "inabilidade" de May na questão evidenciou o "total desconhecimento" quanto às repercussões para o comércio com as nações do Bric.

Peter Mandelson, o ex-ministro e ex-comissário europeu para Comércio, disse que a ideia era "comprovadamente insana".

Em setembro, David Cameron visitou o Brasil para desenvolver melhores vínculos comerciais com a economia que gera US$ 2,3 trilhões por ano. Mas, embora vários ministérios estejam trabalhando no sentido de aumentar as exportações, na esperança de estimular uma recuperação, o foco de May é em reduzir a imigração, procurando cumprir a meta do Partido Conservador de chegar à cifra de "dezenas de milhares" até 2015.

Os números do Home Office para 2011 mostram que os brasileiros são a quinta nacionalidade na lista de imigrantes ilegais no Reino Unido, e pouco mais de 2.000 foram removidos à força neste ano. É o único país, nessa lista, para o qual os visitantes em curta permanência não necessitam visto.

Mas qualquer decisão para mudar isso irá antagonizar a comunidade empresarial britânica.

Simon Walker, diretor-geral do Instituto de Administração, criticou a ação de May contra o Brasil como "maluca".