Título: Setor de transportes lança campanha
Autor: Mattos, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2007, Caderno Especial, p. F1

Se pouco ou nada for feito e as políticas de mitigação seguirem tímidas, a perspectiva é de que até 2030 dobre a quantidade de dióxido de carbono (CO) e outros gases na atmosfera. Os efeitos seriam desastrosos. Todos os países têm trabalho a fazer, uns mais e outros menos.

No Brasil os vilões continuam sendo as queimadas e o desmatamento, responsáveis por 75% das emissões de CO. Geração de energia e processos industriais respondem pelos 25% restantes, incluídos 9% dos transportes. Mesmo com baixa contribuição, o setor arregaçou as mangas e lança em junho um plano ambicioso para reduzir a poluição de carros, caminhões e outros veículos. No país há cerca de 30 milhões de automóveis e dois milhões de veículos pesados - 80% movidos com os poluentes gasolina e óleo diesel. O uso de biodiesel ainda é mínimo.

Para economizar combustíveis e reduzir a poluição do setor, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) investiu R$ 5 milhões na compra e equipagem de 80 veículos. Com eles, técnicos especializados circularão pelo país com medidores de poluição. Sempre que preciso, motoristas serão orientados a regularem seus veículos. Também serão distribuídas cartilhas nas rodovias e realizados cursos sobre poluição e mudanças climáticas em 140 escolas do sistema Sest/Senat - Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte.

Conforme os planos da confederação, os motoristas também deverão informar aos órgãos responsáveis sobre queimadas, desmatamentos, acidentes com produtos químicos e outros incidentes ao trafegarem pelo país. Só as rodovias federais somam 80 mil quilômetros. "Transformaremos esses trabalhadores em vigilantes do planeta. Todos devem fazer a sua parte", disse Clésio Andrade, presidente da CNT.

A medida ajuda programas governamentais de combate à poluição veicular e química e é relevante para um país cuja economia circula sobre o asfalto. Mais de 60% do transporte interno de produtos passa por rodovias, cerca de 30% em ferrovias e o restante por aviões, barcos e outros meios. Cerca de 3 milhões de pessoas trabalham com transportes, mais de um milhão são caminhoneiros.

Mas enquanto a poluição veicular já encontrou adversários de peso, o avanço da fronteira agropecuária segue esquentando a cabeça de ambientalistas, que o vêem como maior responsável pelo desmate da Amazônia e outras regiões. Para reduzir as emissões oriundas do desflorestamento, melhorar a imagem e o desempenho ambiental do setor, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) prepara uma pauta de propostas.

O documento elaborado com apoio da Universidade de Brasília será finalizado no segundo semestre, após ser debatido nos 2 mil sindicatos ligados à CNA. Em seguida, será discutido com governos e organismos como Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Agência de Cooperação Internacional do Japão e Nações Unidas.

Um dos pontos fortes da pauta é a recompensa financeira pela manutenção de florestas. Essa medida é apoiada por parlamentares da bancada ruralista. Na Amazônia a reserva legal é de 80% das propriedades. Manter essas matas inviabilizaria economicamente a agropecuária, mas é positivo do ponto de vista ambiental. "Os produtores precisam ser compensados. Nos EUA, até US$ 100 são pagos por ano pela preservação de apenas um hectare de floresta", disse Rodrigo Brito, assessor de meio ambiente da CNA.

Segundo ele, fiscalização e prisão de madeireiros ilegais e grileiros não são suficientes para conter a derrubada da floresta. Faltariam instrumentos econômicos e transversalidade nas ações de governo para frear as moto-serras e machados. A alardeada redução em 51% no ritmo de desmatamento da Amazônia se deveria mais à queda do preço de commodities do que a ações governistas. "Essa redução (do desmatamento) era esperada há quatro anos. A derrubada caiu junto com o preço da soja", ressaltou Brito.

Conforme o assessor, a Amazônia pode e deve ser preservada, mas haveria áreas propícias ao uso agropecuário sustentável. Para tanto, a CNA chamou a Embrapa e a ABNT para ajudar na certificação de propriedades e evitar futuras barreiras não-comerciais. "Falta um zoneamento ecológico-econômico, mas se o setor não cumprir ao menos a legislação interna, será penalizado pelo mercado global", explicou Brito.

Iniciativas como as da CNT e CNA são importantes, mas deveriam estar atreladas a uma política nacional sobre mudanças climáticas, acredita o ex-deputado Fábio Feldmann (hoje ligado ao PV). "É preciso refletir sobre os efeitos e sobre a continuidade dessas ações", argumentou.