Título: Preços caem, mas os projetos avançam
Autor: Mattos, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2007, Caderno Especial, p. F1

Queda de preços ou o mercado ainda morno não têm desestimulado empresas instaladas no Brasil a investir em projetos que rendam créditos de carbono, ainda que o retorno seja pouco. Há um ano, em maio de 2006, a Sadia vendeu 2,750 milhões de toneladas de CO2, resultado da captação de gases, gerados por dejetos suínos, por biodigestores. A venda foi feita ao European Carbon Fund (EFC) por cerca de R$ 80 milhões.

Os biodigestores foram instalados inicialmente em três granjas próprias da empresa no Paraná e em Santa Catarina. O projeto de captação de gases do efeito estufa foi aprovado pelo Conselho executivo das Organizações das Nações Unidas (ONU) para Mudanças Climáticas no início de 2006 e prevê a venda de 6 milhões e 10 milhões de toneladas em dez anos.

Hoje a empresa já instalou biodigestores em cerca de 850 propriedades de suinocultores e deve chegar a 1.000, do total de seus 3.500 parceiros, com R$ 60,5 milhões financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o Instituto Sadia de Sustentabilidade.

No início, o objetivo da Sadia era instalar biodigestores em todas as granjas integradas de suinocultores, mas os critérios de cálculo de emissão da ONU mudaram, e os planos da empresa também. "O novo método reduz em 50% o potencial de produção de carbono", diz Meire Ferreira, diretora executiva do Instituto Sadia e coordenadora de sustentabilidade da empresa. "Assim, não consigo incluir de 30% a 40% dos integrados."

O conselho executivo da ONU, segundo ela, acaba inviabilizando muitos projetos com as regras mais restritas. "Fomos surpreendidos no meio do projeto, temos que fazer uma ginástica para revisar os números. Mas vamos ser criativos e ver outras alternativas." Com entrega escalonada de 410 mil toneladas por ano, de 2008 a 2013, o projeto deve totalizar 2,46 milhões de toneladas em créditos de carbono.

A Celulose Irani também já tem projeto aprovado na ONU e fez duas emissões de crédito de carbono pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), a primeira, de 179 mil toneladas, em setembro de 2006, e a segunda, de 45 mil, em janeiro deste ano. Os créditos foram ganhos com cogeração de energia, com a queima de resíduos florestais como biomassa. Com isso, a empresa desativou sete caldeiras que queimavam combustível fóssil.

A venda dos créditos rendeu R$ 3 milhões, parcela pequena do investimento feito, de R$ 23 milhões, segundo Odivan Cargnin, diretor administrativo e financeiro da empresa. "Já tínhamos interesse em mudar nossa matriz energética, ampliá-la, e com isso levar a uma melhoria ambiental." diz Cargnin "Os créditos de carbono ajudam a viabilizar nosso projeto."

Atualmente, 81% da energia consumida em suas caldeiras é produzida pela própria Irani, e 100% dela é de fonte limpa, garante o diretor. Até janeiro de 2005, o percentual de energia própria era de apenas 40%. A cogeração de energia deve render à empresa uma média de 160 mil toneladas por ano em créditos de carbono. Outro projeto, de uma estação biológica para tratamento de efluentes, que deve começar a funcionar no mês que vem e na qual a empresa já investiu R$ 6 milhões, gerará outras 55 mil toneladas por ano. "E continuamos a mapear outras oportunidades", diz Cargnin.

O projeto da Klabin no âmbito do Tratado de Kyoto, de substituição de óleo pesado por gás natural, está em fase final. A substituição está sendo feita na fábrica de embalagens instalada em Piracicaba (São Paulo), no qual a empresa investiu cerca de US$ 30 mil, e reduzirá em 15 mil toneladas as emissões de gás carbônico. A fabricante já recebeu várias ofertas para a venda dos créditos, o que deve ocorrer ainda neste semestre, mas só os venderá depois de ter o certificado na mão, afirma o diretor de energia e meio-ambiente, José Oscival. Há interessados do Canadá, da União Européia e bancos.

A Klabin também desenvolve um projeto de uso de energia renovável, com substituição de óleo pesado na geração de vapor, na unidade Monte Alegre, em Telêmaco Borba (Paraná). A nova caldeira de biomassa terá capacidade de produção de 250 toneladas de vapor por hora, a maior em operação no Brasil, segundo a empresa. Ela levará a uma redução do consumo de óleo combustível em 20 mil toneladas por ano na unidade, e prevê também uma redução de 15% no volume de efluentes.

O projeto ainda está no início, mas Oscival estima que serão investidos ali entre US$ 30 mil e US$ 50 mil. Atualmente o grupo inteiro utiliza algo como 170 mil toneladas por ano de óleo, e a meta é reduzir esse total em 100 mil toneladas. "Estamos fazendo investimentos pesados no que há de mais moderno em redução de energia.", diz Oscival.

Além do Tratado de Kyoto, a Klabin é membro pleno do Chicago Climate Exchange (CCX), que reúne empresas comprometidas com a redução da emissão de gases do efeito estufa de 1% ao ano, entre 2003 e 2006. Entre 2007 e 2010, a redução será de 2% ao ano. No ambiente da CCX, a Klabin já vendeu 30 mil toneladas relativas ao seqüestro de carbono, e espera chegar a um total entre 300 mil e 500 mil. De acordo com o diretor, o preço da tonelada, na CCX, é de US$ 3 a US$ 4, longe dos US$ 15 já registrados nas transações do Tratado de Kyoto.

Os créditos foram conseguidos com o plantio de florestas de eucalipto de manejo sustentável, em 9.683 hectares que estavam degradados em 1990. Cada hectare de floresta plantada seqüestra 30 toneladas de carbono ao ano e a empresa tem cerca de 32 mil hectares cadastrados no projeto. No total, a empresa possui 198 mil hectares de florestas de pinus e eucaliptos, além de 140 hectares de mata nativa preservada. No momento, a Klabin está prospectando novas oportunidades de projeto do MDL. Para isso, analisa propostas de dois concorrentes.