Título: Investidores buscam oportunidades em fundos ambientais
Autor: Mattos, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2007, Caderno Especial, p. F1

Investidores internacionais têm "clamado" por novas oportunidades de aplicação de recursos nas áreas de energias renováveis e biocombustíveis - principalmente biodiesel e etanol, segmentos em que o Brasil tem se destacado no debate internacional. A conclusão é de um relatório publicado em março pela firma de consultoria e pesquisas americana Clean Edge, intitulado "Clean Energy Trends 2007". Segundo o estudo, os aportes de capital para o desenvolvimento dos biocombustíveis e de energias que exploram a potência do vento e do sol somaram US$ 54 bilhões em 2006 no mundo. A expectativa é que esse valor alcance, dentro de uma década, US$ 211 bilhões - um aumento de 290%.

Lideranças do setor privado no Brasil acreditam que essa é uma oportunidade para o país atrair capital externo e a atenção dos fundos ambientais, que aplicam recursos para financiar novos projetos no mundo. "Estamos vivendo um bom momento e, portanto, a questão é como transformar nossas vantagens comparativas em vantagens competitivas em relação a outros países", diz Nelson Pereira dos Reis, diretor do departamento de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Segundo o relatório da consultoria americana, em 2006, o mercado mundial de biocombustíveis somou investimentos de US$ 20,5 bilhões - esse valor deve atingir US$ 80,9 bilhões em 2016. A energia solar e dos ventos (eólica) receberam aportes de US$ 15,6 bilhões e US$ 17,9 bilhões no ano passado, respectivamente. A expectativa é que os montantes atinjam US$ 69,3 bilhões e US$ 60,8 bilhões daqui a dez anos, respectivamente, nessas duas áreas.

A entrada do capital internacional em projetos locais já acontece no país por meio dos fundos de capital de risco. Gestoras e consultorias no país devem lançar, neste ano, novos fundos de private equity e venture capital focados no setor de bioenergia. Há dois meses, o ex-presidente da Petrobras, Felipe Reichstul, montou com parceiros internacionais e brasileiros um fundo de investimento em etanol, o Brazil Energy.

O fundo pretende captar US$ 2 bilhões para investir na produção e exportação do etanol brasileiro. O aporte inicial, em março, atingiu US$ 200 milhões. James Wolfenson, ex-presidente do Banco Mundial, e Vinod Khosla, o fundador da Sun Microsystems, colocaram recursos nesse fundo.

Empresas de reciclagem, produtos florestais certificados e orgânicos e energia limpa estão entre as opções de investimento preferidos do capital de risco. No Brasil, fundos como Stratus, AxialPar e Rio Bravo já têm opções com foco em negócios ligados ao meio ambiente. Em novembro de 2006, o Stratus Banco de Negócios, especializado em fundos de venture capital, criou o Stratus VC III, com R$ 60 milhões (obtidos junto a instituições como o BNDES, BID, Finep e Petros) para investir em empresas nas áreas de alimentos orgânicos e funcionais, tecnologias limpas e biodiversidade brasileira.

Um dos principais fundos ambientais em atividade no Brasil pertence à organização RedLac (Rede de Fundos Ambientais da América Latina e Caribe). A entidade tem perfil diferente dos fundos de capital de risco: opera sem fins lucrativos. Com sede em Lima, Peru, a organização tem como meta financiar ações de conservação e sustentabilidade ambiental nos países latinos e caribenhos. No Brasil, o braço da organização é o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), criado ao final de 1995, e os financiadores são o Banco Mundial e empresas privadas de grande porte (CSN, Alcoa, Klabin e Cemig).

O fundo já financiou mais de 60 projetos na soma total de US$ 30 milhões no Brasil - mais de R$ 60 milhões.

Na América Latina e Caribe, os valores aplicados pela RedLac passaram de US$ 100 milhões em 1996 para US$ 800 milhões no ano passado. No início da operação, a rede contava apenas com 12 fundos. Agora, já são 25 fundos, em 19 países da América Latina e do Caribe, com mais de três mil projetos realizados.

Com operação focada no mercado financeiro, os fundos de investimentos sustentáveis também têm crescido no Brasil num ritmo acelerado. Neles, as carteiras são formadas por empresas com boas práticas socioambientais comprovadas.

O país tem hoje sete bancos - seis privados e um público - que administram 13 fundos de investimento sustentáveis com patrimônio que atingia, na última sexta-feira, R$ 1,28 bilhão.

O setor financeiro prepara novidades: o banco ABN Amro Real pretende criar um novo fundo para criar outras opções de investimentos para o mercado. Pedro Villani, gestor de renda variável da instituição, não dá detalhes, mas informa ser possível "novidades daqui a alguns meses". Segundo ele, o banco pensa em criar fundos que incluam empresas que contribuam para o desenvolvimento sustentável em áreas ligadas, por exemplo, às variações climáticas.

Além disso, é aguardada a entrada dos fundos de pensão nesse segmento em 2007. Há menos de dois meses, 15 fundos de pensão assinaram um documento intitulado "Princípios para o Investimento Responsável" no qual se comprometiam a tomar decisões de aplicação de recursos com base em variáveis sociais, ambientais e de governança das empresas.