Título: Agito para as ações
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2007, EU & Investimentos, p. D1

Com o crescente número de investidores rumo à bolsa e de empresas preocupadas com boas práticas de governança corporativa e com a liquidez de seus papéis, a demanda por formadores de mercado está cada vez mais aquecida. O chamado "market maker" é um agente, em geral corretoras, contratado para garantir um mínimo de negócios, assegurando que o investidor encontrará comprador para as ações quando quiser vendê-las. Nos últimos dois anos, o total de companhias que conta com formadores de mercado para seus papéis triplicou. No início de maio de 2005, por exemplo, apenas dez empresas tinham "market maker". Hoje, já são 30, das quais seis companhias contrataram o serviço neste ano.

A última a ingressar nessa lista foi a Positivo Informática, que adotou o UBS Pactual como formador de mercado. Segundo Lucas Guimarães, diretor de Relações com Investidores da empresa, a intenção foi reduzir a flutuação dos papéis. Apesar do fato de as ações terem liquidez mesmo antes da contratação, a negociação nem sempre era perfeita, diz, pois a volatilidade durante o dia às vezes era muito alta. "Às vezes, o vendedor quer se desfazer do papel por um preço muito baixo, o que reduz o preço da ação momentaneamente e o papel acaba oscilando muito durante o dia". Para ele, o formador ajuda a negociação ser mais coerente.

Levantamento da Bovespa com algumas empresas que abriram capital no ano passado e, em seguida, contrataram formadores de mercado mostra que há avanços. No caso da Lupatech, por exemplo, o número de negócios diários com as ações da empresa saltou de 55 para 127 e o volume, de R$ 2,505 milhões para R$ 8,022 milhões diários. Já com as units (recibo de ações) da Equatorial, o número de operações diárias com os papéis passou de 35 para 62 após a contratação do "market maker" e o volume subiu de R$ 2,301 milhões para R$ 3,333 milhões. Outra beneficiada foi a Datasul, em que o número de negócios diários passou de 41 para 51 e o volume de R$ 969 milhões para R$ 994 milhões. Não foi considerado o período de estabilização, que corresponde aos primeiros 30 dias corridos após o início de negociação das ações.

Muitas empresas que abriram capital recentemente percebem que o papel não tem tanta liquidez como imaginavam e optam pela contratação de um formador, diz Ricardo Pinto Nogueira, superintendente de operação da Bovespa. Isso pode acontecer porque a oferta ficou muito concentrada nas mãos de alguns investidores, como os estrangeiros, por exemplo. "Para a empresa, o benefício é ter maior estabilidade de preço dos papéis, melhor volatilidade", diz. "Já para o investidor, quanto menor a volatilidade e mais estável o papel, melhor", diz Nogueira.

As novatas da bolsa, que têm listado seus papéis principalmente no Novo Mercado, se mostram o terreno mais fértil para as corretoras. Das 29 empresas com "market maker" (são 30 com o PIBB), 18 estão no nível mais alto de governança corporativa. E como o ano promete mais lançamentos de ações, o mercado deve ficar turbinado. Segundo Nogueira, mais três empresas devem anunciar a contratação de formadores neste mês e a expectativa é de que o ano termine com pelo menos 40 ações com "market maker".

O UBS Pactual lidera esse mercado, atuando como "market maker" de ações de 18 companhias. A corretora é beneficiada pelo trabalho de coordenação de ofertas públicas realizado pelo banco. "Quando uma empresa que já tem ações em bolsa decide fazer uma oferta, é recomendável a contratação de um formador para evitar a oscilação brusca do papel", diz Aldo Laureano, direto executivo da UBS Pactual Corretora. No caso de uma empresa que está lançando ações, o "market maker" ajuda a evitar a concentração dos papéis nas mãos de poucos investidores após a oferta pública, diz. Segundo ele, mais três empresas estão negociando contrato e outras dez estão em conversas com a instituição.

No Brasil, normalmente é a empresa emissora que contata a corretora que vai manter um mínimo de ofertas diárias das ações, normalmente entre R$ 300 mil e R$ 500 mil. As companhias que contratam "market maker" colocam uma meta de "spread" (diferença entre os preços de compra e venda) máximo de 3%. Algumas chegam a atrelar um prêmio de performance para a corretora, caso consigam ingressar em um dos índices da bolsa, como o IBrX, o IBrX-50 ou o Ibovespa, conta Vitor Hugo Roquete, sócio da Ágora, formadora de mercado para oito empresas. Segundo ele, mais duas companhias já estão com contrato praticamente assinado e outras seis estão estudando a contratação.