Título: Morte abre disputa pelo poder na Venezuela
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Fonte: Valor Econômico, 06/03/2013, Internacional, p. A12

A morte do presidente Hugo Chávez ontem em Caracas deu início à corrida pela sua sucessão na Venezuela. Segundo analistas, a princípio essa disputa será travada apenas entre seus seguidores e a oposição venezuelana. Mas, no médio prazo, o vice-presidente Nicolás Maduro - escolhido por Chávez para ser seu sucessor - pode ter problemas para manter a unidade em torno de sua figura.

Pela Constituição, com a morte do governante, o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, tem até 30 dias para marcar uma data para novas eleições.

A oposição, derrotada pelo chavismo tanto no pleito presidencial de outubro quanto nas eleições para governadores, em dezembro, vem sinalizando desde o início do ano que mais uma vez apresentará um candidato único para concorrer à Presidência. Ainda não há consenso, mas o nome mais forte continua sendo o do governador de Miranda, Henrique Capriles. Ele obteve cerca de 45% dos votos na eleição para presidente, contra 55% de Chávez, e foi um dos três governadores de oposição eleitos em janeiro, contra 23 governistas.

Ontem, Capriles pediu unidade à Venezuela e expressou sua "solidariedade a todos os familiares e seguidores do presidente".

Do lado chavista, a questão foi resolvida pelo próprio Chávez. Antes de embarcar para tratamento em Cuba em 10 de dezembro, ele anunciou que, se por qualquer motivo, se visse impedido de retornar à Presidência, seu sucessor seria Maduro. "No curto prazo, a comoção gerada pela morte de Chávez certamente vai gerar uma unidade", diz Luiz Pinto, pesquisador do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Columbia. "Uma vez ganhas as eleições, a situação fica mais complicada, e algumas divisões dentro do chavismo podem ser expostas."

Segundo ele, há uma disputa de poder entre lideranças chavistas que têm ascendência sobre algumas instituições, como as Forças Armadas e a estatal de petróleo PDVSA - responsável por 95% das exportações do país.

Além de Maduro e Cabello, vinham sendo apontados como possíveis sucessores de Chávez o presidente da PDVSA, Rafael Ramírez, o irmão do presidente morto e governador do Estado de Barinas, Adán, e o atual ministro das Relações Exteriores, Elías Jaua. Até o momento, no entanto, as maiores lideranças do chavismo têm se mostrado coesas.

Para Héctor Briceño, professor do Centro de Estudos de Desenvolvimento da Universidade Central da Venezuela, o discurso de Maduro - em que disparou contra o "imperialismo americano" e a "oposição burguesa" - momentos antes de ele próprio anunciar a morte de Chávez foi um chamado à união do chavismo em torno de sua figura. "O discurso foi moldado para preparar esses setores para uma notícia mais forte sobre a saúde do presidente", disse Briceño ao Valor cerca de dez minutos antes do anúncio da morte do líder bolivariano.

Segundo ele, até o momento não houve nenhum sinal importante de ruptura dentro do chavismo, apesar de rumores de que setores das Forças Armadas estavam insatisfeitos com o "vazio constitucional" que se havia criado com o afastamento do presidente.