Título: Ajuste na economia será desafio para Maduro
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Fonte: Valor Econômico, 06/03/2013, Internacional, p. A12

A morte de Hugo Chávez vai colocar à dura prova a liderança do vice-presidente Nicolás Maduro. Segundo analistas, o país precisa de uma correção urgente de rumo na economia, incluindo um ajuste fiscal e possivelmente mais desvalorização da moeda. Maduro não poderá fazer nada disso durante a campanha eleitoral. Depois, ficará com o ônus de um ajuste que poderá ser terrivelmente impopular.

Em setembro, o FMI estimou o déficit público da Venezuela em 7,4% para o ano passado. A estimativa oficial, de pouco mais de 5%, não é levada a sério. Mas, segundo a consultoria Ecoanalitica, o déficit no ano eleitoral de 2012 foi da ordem de 15%, o que é insustentável. Isso apesar da receita elevada, já que a cotação do petróleo ficou acima de US$ 100 o barril.

No começo de fevereiro, o governo desvalorizou o bolívar em 32% em relação ao dólar. Ainda assim, a diferença entre o câmbio oficial (6,2 bolívares por dólar) e o paralelo (23,6 bolívares ontem) permanece muito elevada. Isso pode indicar mais desvalorização.

O ajuste fiscal fará com que o governo reduza gastos, inclusive com os benefícios sociais, que deram popularidade a Chávez. A desvalorização deve alimentar a inflação, que fechou 2012 em 19,9% e já é a maior da América Latina.

Como resultado do ajuste esperado, a economia deve ter forte desaceleração neste ano, em relação aos 5,5% estimados para 2012, e que foram puxados pelos gastos do governo.

Maduro não poderá tomar medidas impopulares agora, imediatamente antes da nova eleição presidencial, para a qual ele é amplamente favorito.

Mas o ajuste é considerado inevitável, até porque avalia-se que o saldo da conta petróleo esteja caindo, devido à queda na produção de derivados. A importação de combustíveis dos EUA cresceu muito em 2012.

Chávez tinha capital político para pedir sacrifícios à população. Maduro não tem. E seus rivais no chavismo estarão atentos à queda na sua popularidade. A economia poderá ser uma herança maldita para o herdeiro de Chávez