Título: Morre Chávez, após longa batalha contra o câncer
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Fonte: Valor Econômico, 06/03/2013, Internacional, p. A12

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, morreu ontem em um hospital militar de Caracas após travar uma batalha de 20 meses contra um câncer na região pélvica. O anúncio foi feito pelo vice-presidente Nicolás Maduro, em discurso transmitido pela TV.

"Hoje, 5 de março, logo depois de haver comparecido à reunião do Conselho de Ministros e da direção político-militar da Revolução, nos dirigimos aqui, às instalações do Hospital Militar de Caracas, para acompanhar a evolução da saúde de nosso comandante presidente. Foi quando recebemos a notícia mais dura e trágica que poderíamos transmitir. Às 16h25 [17h55 em Brasília] faleceu o comandante presidente Chávez", disse Maduro, com a voz embargada e acompanhado por ministros. "É um momento de profunda dor."

Após o anúncio, o ministro da Defesa da Venezuela, Diego Molero, pediu unidade nacional e assegurou o apoio dos militares a Maduro: "Contem com suas Forças Armadas, que são do povo e para o povo. Estamos dispostos a fazer cumprir a Constituição".

Horas antes, Maduro havia feito outro pronunciamento na TV, no qual afirmara que Chávez tinha sido infectado com câncer por inimigos "imperialistas". "Os velhos inimigos da pátria buscaram uma maneira de prejudicar sua saúde", disse. O vice-presidente, então, anunciou a expulsão do país de um adido militar dos Estados Unidos, o coronel David Delmonaco, por ter entrado em contato com militares venezuelanos para supostamente discutir uma conspiração. Segundo o jornal "El Universal", um outro funcionário da Embaixada dos Estados Unidos, Debling Costal, também foi expulso.

Em Washington, o presidente americano, Barack Obama, disse que a morte de Chávez abre "um novo capítulo" para a nação sul-americana. "Os Estados Unidos reafirmam o seu apoio ao povo venezuelano e seu interesse em desenvolver uma relação construtiva com o governo venezuelano", afirmou em nota que em nenhum momento prestou condolências pela morte.

A presidente Dilma Rousseff decidiu ir ao velório e cancelou a viagem que faria nesta semana à Argentina. Em Brasília, após pedir um minuto de silêncio aos participantes de um congresso de trabalhadores rurais, afirmou que se tratava de "uma perda irreparável". "O presidente Chávez foi, sem dúvida, uma liderança comprometida com o seu país e com o desenvolvimento dos povos da América Latina", disse Dilma. "O presidente Hugo Chávez deixará no coração, na história e nas lutas da América Latina um vazio."

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou em nota: "Tenho orgulho de ter convivido e trabalhado com ele pela integração da América Latina e por um mundo mais justo. Eu me solidarizo com o povo venezuelano, com os familiares e correligionários de Chávez, neste dia tão triste, mas tenho a confiança de que seu exemplo de amor à pátria e sua dedicação à causa dos menos favorecidos continuarão iluminando o futuro da Venezuela."

Em Nova York, após o anúncio da morte, houve uma alta no custo do seguro contra o calote da dívida venezuelana. Os CDS (credit default swaps) subiram quatro pontos-base, para 641 pontos-base. "O mercado agora vai se focar na eleição", disse David Rolley, da gestora Loomis Sayles. "Não sabemos se haverá continuidade de políticas."