Título: Para analistas, produção industrial cresceu em janeiro, ajudada por veículos
Autor: Martins, Arícia
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2013, Brasil, p. A2

Principal influência negativa sobre a indústria no início de 2012, o setor automotivo começou este ano em ritmo forte e deu impulso à produção em janeiro, segundo economistas, depois da estabilidade observada em dezembro. A expectativa é que a retomada no segmento de caminhões e um bom desempenho do de comerciais leves garantam alta de 1,8% da produção industrial frente ao mês anterior, feito o ajuste sazonal, segundo a média de 11 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data. As estimativas para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF), a ser divulgada hoje pelo IBGE, variam de 1,3% a 2,5%.

O dado de janeiro, contudo, foi visto como pontual, já que a reação parece ter ficado novamente concentrada no setor automobilístico. Em dezembro, menos da metade dos ramos industriais pesquisados pelo IBGE haviam crescido em relação a novembro. Para fevereiro, há a percepção de que boa parte do aumento da produção esperado para o primeiro mês do ano pode ser devolvida, volatilidade que, de acordo com analistas, reforça a avaliação de reaquecimento ainda moderado da economia.

"Não vemos nenhum sinal de retomada mais forte em outros segmentos", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, que projeta avanço de 1,5% para a produção entre dezembro e janeiro. Essa variação, afirma Vale, deve ser sustentada principalmente pela volta ao normal da produção de caminhões, que foi paralisada no começo de 2012 devido à mudança de motores para o sistema Euro 5, menos poluente, porém mais caro. Segundo a Anfavea, entidade que reúne as montadoras, o setor de caminhões mais que triplicou sua produção no primeiro mês de 2013 em relação a igual período do ano passado, com alta de 270%.

A produção de carros de passeio e utilitários leves também mostrou evolução favorável em janeiro, ao subir 27,1% em comparação com o mesmo mês do ano passado, comportamento que a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Zara, relaciona às promoções de concessionárias, que ainda venderam unidades com preços de dezembro. Antes zerada, a alíquota do IPI para veículos 1.0 foi elevada para 2% na abertura do ano e vai voltar ao nível normal de 7% depois de junho.

Com a recomposição gradual do imposto, Thaís espera que vendas e produção de carros esfriem daqui em diante. Assim, em sua opinião, a alta de 1,5% esperada para a indústria na passagem mensal não é parâmetro para os outros meses do ano, bem como o avanço de 4,6% projetado sobre janeiro de 2012 - dado que, se confirmado, será o melhor resultado na comparação anual desde fevereiro de 2011. "Ainda permanece um ritmo de melhora gradual da economia, com alguns meses com resultados um pouco melhores, mas devolução nos meses seguintes."

Igor Velecico, do Bradesco, aponta que mais indicadores coincidentes - como a expedição de papelão ondulado, o consumo de energia e a importação de bens intermediários, entre outros - subiram em janeiro, indício de que outros setores podem ter ajudado na expansão de 2,5% estimada para a indústria ante dezembro. Com peso mais elevado na produção, no entanto, a indústria automotiva tem influência maior sobre o resultado geral e, a partir de dados já conhecidos de fevereiro, deve ter puxado para baixo a atividade industrial no mês passado, diz ele.

A produção total de veículos medida pela Anfavea avançou 5,2% em fevereiro em relação a igual mês do ano anterior, mas recuou 17,9% sobre janeiro, sem ajuste sazonal. As vendas também perderam fôlego, com queda de 5,8% na comparação anual e retração ainda maior, de 24,5%, ante janeiro. Segundo Velecico, o ramo de automóveis provoca muita volatilidade na série da produção industrial, mas o ritmo da indústria, que está em processo de recuperação, seria algo intermediário entre o repique do primeiro mês do ano e a queda já esperada para fevereiro.