Título: Otimismo do setor de construção é o menor desde 2010
Autor: Elias, Juliana
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2013, Brasil, p. A2

O Índice de Confiança da Construção (ICST), indicador mensal da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que mede a percepção dos empresários com relação ao mercado, fechou fevereiro com uma pontuação de 117,7, o menor nível da série histórica, iniciada em julho de 2010. Naquele mês, o indicador estava em 148,4, o pico registrado pelo ICST. Pontuações acima de 100 indicam perspectivas positivas e, abaixo, negativas.

Na média do trimestre encerrado em fevereiro, a pontuação, puxada ligeiramente para cima por um desempenho ainda melhor no fim do ano passado, é de 120,0, queda de 6,9% sobre mesmo período um ano antes. No trimestre encerrado em janeiro, a pontuação já estava 4,8% menor nesse tipo de comparação, e as duas quedas sucessivas, na visão da FGV, confirmam a tendência de desaceleração do setor no início de 2013.

"Estamos falando de um setor em que ainda prevalece o otimismo, mas as reduções acendem um sinal de alerta neste que é um dos segmentos que ainda mais empregam no país", disse Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV. "Temos uma perspectiva de melhora no médio e longo prazo, mas, se isso não se confirmar, é possível que haja mais demissões do que contratações."

Alguns dos números que compõem a sondagem preocupam. A pontuação referente à evolução recente da atividade, por exemplo, foi de 97, não só a menor da série como também a primeira abaixo de 100, o que indica pela primeira vez uma variação negativa.

O Índice de Confiança da Situação Atual (ISA-CST) teve, no trimestre encerrado em fevereiro, queda de 7,9%, e o Índice de Expectativas (IE-CST), que mede a percepção de negócios para os próximos meses, caiu 6%, acelerando a retração de 3,9% que já tinha acumulado em janeiro. O ICST é calculado com base na junção desses dois indicadores.

Ana Maria chama a atenção para a difusão da tendência negativa por todos os tipo de obras: em edificações, referente ao mercado imobiliário, a queda foi de 8,3% e, em infraestrutura, a única área que ainda vinha apresentando aumento do otimismo nos levantamentos mais recentes, a queda no trimestre encerrado em fevereiro foi de 2,7%. A pontuação em outras obras foi 8,2% menor.

Preocupa ainda a diminuição do otimismo ser um fenômeno espalhado por praticamente todas as etapas da cadeia da construção - o índice em obras de acabamento, segmento que trata dos últimos ajustes de uma edificação, como pintura ou azulejos, e é tradicionalmente o último a responder, teve a sua primeira variação negativa em meses recentes. A queda foi de 1,5% no trimestre de dezembro a fevereiro. Na outra ponta, o segmento de preparação de terrenos, que já vem tendo reduções acentuadas desde o fim do ano passado, lidera a retração, com um otimismo 12,7% menor em fevereiro.

Ana Maria explica que a tendência de baixa vista hoje é reflexo da redução no número de lançamentos imobiliários em 2011 e 2012, depois do boom assistido em 2010. Puxa a atividade para baixo também o compasso de espera colocado sobre o setor de infraestrutura, uma tendência que vem desde os escândalos e demissões no Ministério dos Transportes em 2011, o que engavetou por um bom tempo uma série de licitações, até definições pendentes sobre pacotes de concessões do governo federal.

A redução da demanda, tanto em infraestrutura quanto em mercado imobiliário, é inclusive um dos temas que vêm mais ganhando espaço entre as preocupações dos empresários. O item "demanda insuficiente" foi assinalado como a principal preocupação, na pesquisa de fevereiro, por 22,6% dos empresários entrevistados - é aproximadamente o dobro que em fevereiro de 2012 (12,6%) e de 2011 (10,4%).