Título: Preços industriais perderam força em fevereiro, diz FGV
Autor: Machado, Tainara; Martins, Diogo
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2013, Brasil, p. A3

A queda já esperada da tarifa de energia elétrica e a redução no ritmo de avanço dos preços de alimentos e educação para o consumidor foram a principal razão para a desaceleração do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) em fevereiro. O indicador, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), deixou alta de 0,31% em janeiro e subiu 0,20% no mês passado. Analistas, no entanto, enxergaram ainda "boas surpresas" no atacado, o que pode sugerir uma inflação no varejo mais comportada entre março e abril.

Os preços industriais no atacado subiram 0,31% em fevereiro, desaceleração em relação ao avanço de 0,67% em janeiro, influenciados por aumentos menos intensos nos insumos industriais, apesar das altas em minério de ferro, diesel e gasolina. Já os preços agrícolas ainda caíram 0,48% no mês, embora bem menos do que na leitura anterior, quando a variação foi de menos 1,68%. Por isso, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-DI), que havia mostrado estabilidade em janeiro, avançou 0,09% em fevereiro.

Para analistas, esses dois movimentos em conjunto podem influenciar positivamente os índices de inflação ao consumidor nos próximos meses. Para os preços industriais no atacado, no entanto, a avaliação é de que novas pressões, como o segundo aumento do diesel anunciado na terça-feira pela Petrobras e reajustes do aço já contratados irão interromper trajetória de desaceleração.

O reajuste de 5% do diesel terá impacto de 0,15 ponto percentual nos índices gerais de preços (IGPs), na avaliação de Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV. "A partir do aumento do diesel, haverá alta de preços em outros itens investigados pelos IGPs, como transportes. No entanto, esse efeito sobre outros produtos será muito difícil de mensurar".

A influência principal da alta do diesel no IGP se dará pelo atacado, onde o combustível tem peso de 2,90% no IPA. No Índice de Preços ao Consumidor (IPC), o diesel tem pouca relevância, explica Quadros, e, por isso, a influência direta será quase nula.

Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, a valorização do real em relação ao dólar observada ao longo de janeiro parece ter chegado aos preços intermediários e contribuiu para segurar os preços dos bens industriais, que avançaram 0,31% em fevereiro, enquanto o ABC Brasil esperava variação mais próxima de 0,80%.

Para Leal, a valorização do câmbio em janeiro e a estabilização do real em torno de R$ 1,95 e R$ 2,00 por dólar nas últimas semanas impactou matérias-primas brutas em janeiro, como a soja, que recuou 14,23%, e o milho, com queda de 3,21% naquele período. Em fevereiro, o efeito do real mais valorizado "andou" um elo da cadeia e puxou para baixo também produtos intermediários, como o farelo de soja, que recuou 10,80% em fevereiro e foi a segunda maior influência negativa para os preços no atacado no período. O efeito do câmbio também está sendo sentido no Índice de Commodities do Banco Central, que mede o preço médio das commodities internacionais com impacto na inflação brasileira, que recuou 2,97% entre janeiro e fevereiro, avalia Leal.

"O próximo passo é chegar aos bens finais, o que dá uma indicação favorável para a inflação no varejo, embora o repasse para o consumidor não seja garantido", afirma o economista.

Também contribuiu significativamente para a perda de força dos produtos industriais em fevereiro, na avaliação de Fabio Romão, economista da LCA Consultores, a deflação de 2,15% de alimentos e bebidas industrializados. Esse comportamento, afirma, reforça sua expectativa de perda de força dos alimentos no varejo. Romão projeta alta de 1,21% desse grupo no IPCA de fevereiro, variação que passará para 0,5% em março e estabilidade em abril, reflexo também do comportamento mais favorável dos preços agropecuários no primeiro bimestre.

No Índice de Preços ao Consumidor (IPC-DI) da FGV, esse movimento já apareceu. O índice de preços ao consumidor da FGV avançou 0,33% em fevereiro, ante alta de 1,01% no mês anterior e o grupo alimentação seguiu a mesma trajetória: deixou variação positiva de 2,18% em janeiro para alta de 1,33% no mês passado.

No entanto, a principal influência negativa sobre o índice foi a redução de 18% da tarifa de energia elétrica para o consumidor, que entrou em vigor no dia 24 de janeiro. Na atual leitura, a queda desse item foi de 13,91%, o que parcialmente compensou o aumento de 5,02% dos combustíveis em fevereiro.

Outra boa notícia, na avaliação do economista do ABC Brasil, foi a evolução do índice de difusão na passagem mensal. Em janeiro, 73,37% dos preços que compõem a cesta do IPC-DI subiram, porcentagem que caiu para 66,27% em fevereiro. Leal avalia que a queda é importante porque o próprio Banco Central mostrou desconforto com o alto índice de difusão observado no IPCA de janeiro, que chegou a 75%.