Título: Expansão global deve continuar, diz FMI
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2007, Finanças, p. C12

O prolongado ciclo de expansão econômica que o mundo experimenta deverá continuar por mais dois anos, apesar da perda de fôlego da economia americana e do recente aumento da instabilidade nos mercados financeiros, afirmou ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI). A instituição prevê que a economia mundial crescerá 4,9% neste e no próximo ano, depois de quatro anos seguidos de crescimento que fizeram do atual ciclo de prosperidade o mais vigoroso desde a década de 70. O Brasil, que vinha crescendo num ritmo bem mais lento que o do resto do mundo, deve crescer 4,4% neste ano, segundo o FMI.

Apesar da desaceleração que tem sido observada nos Estados Unidos, o Fundo acredita que as dificuldades enfrentadas pela economia americana são passageiras e o aquecimento da atividade na Europa, no Japão e nos países emergentes continuará sustentando a demanda global. "Esse crescimento é mais equilibrado do que alguns episódios de rápido crescimento que vimos antes", afirmou o economista-chefe do FMI, Simon Johnson, ao divulgar a nova edição do relatório semestral do Fundo sobre o cenário econômico mundial. "Todos no mundo estão dividindo a prosperidade."

O quadro otimista apresentado pela instituição coincide com a opinião dominante no mercado financeiro, mas analistas influentes como o economista-chefe do banco de investimentos Morgan Stanley, Stephen Roach, têm alertado nos últimos tempos para os diversos riscos existentes na paisagem econômica. O FMI reconhece que essas ameaças são motivo para apreensão. Mas o relatório diz que os principais fatores de preocupação, como a crise no mercado imobiliário americano, a persistência da inflação nos países avançados e a escalada dos preços do petróleo ficaram menos relevantes nos últimos meses.

O FMI prevê que os problemas no mercado imobiliário terão repercussão mínima em outros setores e acha que a inflação voltará a cair neste ano. O relatório da instituição estima que os preços do petróleo cairão 5,5% neste ano e só voltarão a subir no próximo, depois de aumentar 70,2% nos últimos dois anos. Para o Fundo, o perigo mora no mercado financeiro, única área em que a instituição acha que os riscos aumentaram do ano passado para cá. Problemas com as hipotecas americanas e o comportamento agressivo de grandes fundos de investimento têm provocado instabilidade, mas o FMI acha que dificilmente eles serão capazes de interromper o atual ciclo de expansão.

"Não acredito que o rabo financeiro esteja prestes a abanar o cachorro econômico", disse Johnson. "É a economia que realmente importa." Ele acrescentou: "Enquanto os países estiverem conduzindo políticas macroeconômicas sensatas e responsáveis, e em geral eles estão, questões no setor financeiro não serão de primeira ordem."

Muitos economistas duvidam que o resto do mundo consiga se isolar dos problemas da economia americana, num ambiente em que o avanço do comércio internacional tornou os países mais dependentes uns dos outros. Mas o Fundo acha que os EUA voltarão a crescer num passo mais acelerado no segundo semestre e observa que boa parte do crescimento nos outros países tem sido gerado pelo aumento da demanda doméstica.

O otimismo do FMI aumentou tanto que ele agora menospreza um fator que até outro dia era visto com alarme pela instituição, os desequilíbrios criados pelo gigantesco déficit externo americano e pelo acúmulo de superávits no balanço de pagamentos dos produtores de petróleo e de países como a China.

Muitos economistas temem que os investidores um dia desistam de continuar financiamento o endividamento americano, e muitos se incomodam porque um dos efeitos dessa situação tem sido tornar mais competitivos produtos exportados pelos chineses. Mas nos últimos meses parece ter começado a ocorrer um ajuste lento e gradual desses desequilíbrios e o FMI parece ter concluído que eles não importam mais. "Há sinais de que os desequilíbrios estão se estabilizando, embora eles permaneçam enormes", disse Johnson.