Título: Transição não deve impactar petróleo no curto prazo
Autor: Mander, Benedict
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2013, Internacional, p. A12

O período de transição no poder na Venezuela, no rastro da morte de Hugo Chávez, dificilmente terá impacto importante no mercado global de petróleo no curto prazo, mesmo existindo a possibilidade de turbulências temporárias, avaliam analistas na Europa.

Já no longo prazo, a expectativa é de que o novo governo poderá ser empurrado a fazer mudanças na política para o setor energético venezuelano para permitir que a produção volte aos altos volumes dos anos 1990.

O futuro do preço do barril de petróleo depende também da situação geopolítica da Venezuela, com as maiores reservas do mundo, quarto maior exportador mundial e o terceiro maior fornecedor dos Estados Unidos.

Quando Chávez assumiu o poder em 1999, nacionalizou a indústria do petróleo e forçou companhias estrangeiras a ceder o controle de seus projetos para a estatal PDVSA. O setor foi severamente afetado pela nacionalização da produção e exploração, gestão ruim, partida ao estrangeiro de mão de obra qualificada e pouco investimento em favor de gastos na área social.

A produção do óleo a partir daí declinou no país. Do pico de 3,5 milhões de barris por dia produzidos em 1998, caiu para cerca de 2,5 milhões de barris/dia atualmente.

A Venezuela tem reservas de petróleo estimadas em 297 bilhões de barris, ligeiramente superiores às da Arábia Saudita, que é o maior produtor mundial. Em 2012, os sauditas exportaram 12% do petróleo mundial, comparados a 3% pela Venezuela. Segundo a Opep, o cartel do petróleo, em janeiro a Venezuela foi o terceiro maior fornecedor da commodity para os EUA, representando 13% das importações de petróleo americanas.

Conforme a rede de televisão americana CNBC, a notícia da morte de Chávez dominou os corredores da IHS CERAWeek, uma das maiores conferências do segmento de energia do mundo, que aconteceu na tarde de ontem, em Houston. Participantes buscavam sinais sobre o futuro político da Venezuela.

Para alguns participantes, ainda é incerto o que acontecerá depois das próximas eleições no país. Por enquanto, o vice-presidente Nicolás Maduro está na liderança e tem apoio do Exército. "Sem o carisma e força de caráter de Chávez, não está certo como seus sucessores irão manter o sistema que ele criou", afirmou Daniel Yergin, da IHS.

Entre as grandes petrolíferas, ConocoPhillips e ExxonMobil podem se beneficiar caso a nova liderança permita que companhias estrangeiras voltem ao país, disseram analistas ouvidos pela CNBC. A nacionalização na indústria de petróleo da Venezuela, em 2007, resultou na saída dessas duas empresas americanas, que não conseguiram chegar a um acordo com a estatal PDVSA.

"É muito cedo para dizer como o novo comando irá lidar com a situação, mas a ConocoPhillips pode ser bastante beneficiada", disse Fadel Gheit, analista da Oppenheimer & Co.

A companhia tinha grande participação nas atividades de petróleo na Venezuela na época da nacionalização e, segundo Gheit, o valor dos ativos confiscados era de US$ 4,5 bilhões em 2007. "O valor de mercado agora é entre US$ 20 e US$ 30 bilhões. A ConocoPhillips pode, eventualmente, ver um ganho líquido de US$ 10 bilhões", declarou.

Mas isso se a empresa pensar em voltar à Venezuela. "Depende muito do tipo de governo que vem depois da gestão de Chávez", disse Enrique Sira, diretor de pesquisas da IHS para a América Latina. "A única certeza que temos é que a indústria está em condições pobres. A eletricidade teve de ser racionada. Existe problema de falta de combustível e o país não chega nem perto da produção que pode alcançar", completou Sira.

Para certos analistas, o sucessor escolhido por Chávez, Nicolás Maduro, provavelmente manterá o modelo econômico no curto prazo. Mas enfrentará crescente pressão na balança de pagamentos, o que para Capital Economics, de Londres, pode fazer o "chavismo" terminar em confusão.

Os rendimentos dos títulos da Venezuela estão em torno de 9% já há uns seis meses, mas o custo da dívida pode subir para mais de 10% neste ano se as perspectivas econômicas piorarem, conforme analistas.

Em nota a clientes, analistas do Deutsche Bank questionam a visão de alguns setores que apontam Maduro como um chavista "moderado, pragmático".

Lembram que, em recentes apresentações públicas, Maduro pouco fez para dissipar a ideia de que ele vai representar a linha mais dura do chavismo, talvez com uma abordagem "mais intensa da revolução bolivariana".