Título: Lula pede que Petrobras se alinhe ao governo
Autor: Grabois, Ana Paula e Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2007, Empresas, p. B9

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a Petrobras deve se alinhar às políticas do governo sem ter como único objetivo o lucro. "Não se trata de mandar na Petrobras. Se trata de descobrir que ela é uma empresa que o seu controlador é o governo e, portanto, ela tem que se enquadrar em uma estratégia de desenvolvimento do país sobretudo, sem abrir mão dos seus interesses específicos", disse Lula, no Rio, na cerimônia de assinatura dos contratos para a construção de nove navios para da Transpetro, a subsidiária de logística da Petrobras.

No discurso, Lula afirmou que a política de reconstrução da indústria naval foi muito criticada pois havia pessoas que acreditavam que seria mais caro construir os navios no país do que comprá-los no exterior. Lula acrescentou que se o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, tivesse a mesma idéia, o despediria do cargo: "Eu iria falar, Zé Sergio, desculpe, se despeça e vá embora da Petrobras porque queremos fazer dessa empresa não apenas uma empresa lucrativa. Queremos fazer dela uma empresa cidadã", disse o presidente. A declaração provocou risos da platéia e do próprio Gabrielli.

Um analista de banco que preferiu não se identificar interpretou que a declaração de Lula "confirma o que todo mundo já viu", ou seja, "o uso político da Petrobras". Como exemplo, ele lembrou que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está alavancado nos investimentos da estatal.

No evento, realizado em uma tenda climatizada do antigo estaleiro Ishibrás, Lula disse que a retomada do setor no Brasil vai criar empregos e ajudar a distribuir renda. Tanto Gabrielli quanto o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, classificaram a assinatura dos contratos como um momento histórico.

Foram assinados contratos entre o BNDES e o consórcio Rio Naval, que construirá os navios no estaleiro; entre o banco e a Transpetro e entre a estatal e o consórcio. No total, o BNDES aprovou financiamento de R$ 1,76 bilhão para a Transpetro, valor equivalente a 90% do investimento total no projeto, de R$ 1,96 bilhão. Na fase de construção, o banco liberará R$ 705,7 milhões à Transpetro, que correspondem a 36% do investimento total, e R$ 901,8 milhões para o estaleiro, equivalentes a 46% do total.

Em uma segunda etapa, após a conclusão dos navios, a Transpetro contará com o apoio financeiro do BNDES de 90% do valor do investimento. Renato Ribeiro Abreu, presidente do Consórcio Rio Naval, disse que serão investidos entre US$ 16 milhões e US$ 18 milhões na modernização do estaleiro. O objetivo, segundo ele, é que o primeiro navio seja concluído em 29 meses. A partir dali a meta é entregar um navio a cada quatro meses.

O presidente da Transpetro disse que a empresa faz estudos para a compra de um navio para transporte de etanol. Machado também informou que a estatal planeja lançar a segunda fase do programa de construção de navios assim que concluir a contratação das primeiras 26 embarcações, que exigirão investimentos de US$ 2,48 bilhão.

Até o momento foram assinados contratos de 19 navios. Os sete restantes têm prazo até fim de maio para serem contratados, segundo Machado. (*Do Valor Online)