Título: Stephanes se aproxima de ruralistas
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2007, Agronegócios, p. B15

Em um gesto de aproximação com a bancada ruralista, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, submeteu-se ontem a mais de três horas de sabatina na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. Para "quebrar o gelo", declarou ter intimidade com o setor e fez várias promessas aos parlamentares, inicialmente contrários à sua nomeação para a Pasta justamente por um alegado desconhecimento do setor rural. "Tenho uma história profissional vinculada à agricultura", repetiu.

No papel de "defensor da agricultura" e de "parceiro e colega" da bancada, Stephanes prometeu levar ao governo o pedido de redução dos juros do crédito rural. "Vamos tentar discutir essa questão". E acenou que se dedicará a uma bandeira muito cara aos ruralistas: "O grau de endividamento do setor é alto e precisamos de três ou quatro boas safras para que o produtor tenha renda. As dívidas crescem muito, porque os juros embutidos nela são muito elevados", afirmou.

Ao mesmo tempo, o ministro deixou escapar outra frase que perturbou os deputados. "O problemas não é nem os 8,75% [juros atuais do setor], mas aumentar a disponibilidade de recursos a 8,75%". A afirmação foi mal recebida porque os parlamentares afirmam que há "sobra" de recursos a juros subsidiados e o que falta é uma política agrícola mais abrangente. Ou seja, que contemple uma queda nos juros, já que o impacto também poderia ocorrer sobre o estoques das dívidas rurais.

E anunciou uma "conversa preliminar" com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para a próxima semana com o objetivo de tratar de assuntos relativos ao Plano de Safra 2007/08, que deve ser anunciado em meados deste ano.

À vontade entre os colegas deputados, o ministro reiterou a necessidade de "apoio e suporte" da bancada para as ações do ministério, sobretudo na "recomposição" dos recursos para a defesa agropecuária, sua principal prioridade neste início de gestão, e para o seguro rural. A defesa tem apenas R$ 127,4 milhões para este ano. O seguro, R$ 20 milhões. Ambos sofreram um forte bloqueio de recursos. "Quero ser efetivo parceiro da bancada e do setor. A comissão existe para dar suporte a quem trata do assunto. Não só politicamente como tecnicamente. Nossa reunião foi 'light' e espero que [a relação] continue assim", resumiu.

Na reunião, na qual buscou imprimir um caráter informal de tratamento aos deputados, Stephanes entrou em algumas polêmicas. Questionado pelo deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), o ministro sinalizou a existência de um "cartel" comandado pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que controlaria as exportações de carne bovina para a Europa.

"Embora a Abiec não precise ser consultada para o credenciamento das exportações ao mercado europeu, na prática, ela mantém um cartel, mantém um monopólio, mantém o domínio disso", afirmou. Em seguida, Caiado emendou: "O ministro se mostrou convencido de que o processo existe, reconheceu uma estrutura cartelizada pelos frigoríficos. E agora que fez o diagnóstico, tem que tomar as medidas". Procurado, o diretor-executivo da Abiec, Antonio Camardelli, informou que só se pronunciaria depois de ouvir o áudio da sabatina de ontem, o que não havia acontecido até o fechamento desta edição.

Em outra frente, Stephanes entrou também na polêmica revisão dos índices de produtividade para fins de reforma agrária, assunto que repousa na mesa do presidente Lula e que tira o sono de ruralistas do país. "É um momento de discussão técnica interna sobre isso". Sobre uma eventual "agilização" na liberação comercial de transgênicos no país, não entusiasmou muito aos deputados ao afirmar que cumprirá "as leis e as determinações" da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) sobre o tema. "Ministro tem que seguir as regras do governo".