Título: BC não ata nem desata
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 17/12/2010, Economia, p. 16

POLÍTiCA MONETÁRIA Documento do Copom é tachado como ambíguo. Reconhece pressão inflacionária forte, mas não prevê aumento de juros

A aguardada ata do Comitê de Política Monetária (Copom), última assinada por Henrique Meirelles como presidente do Banco Central, atirou para todos os lados, mas não deixou claro o que acontecerá com a taxa básica de juros (Selic) em 2011. Classificado como ambíguo por grande parte dos especialistas, o documento reconheceu que os sinais inflacionários neste fim de ano vieram mais fortes do que a autoridade monetária esperava. Destacou também que as incertezas no cenário econômico estão acima dos níveis comuns. A despeito de toda a deterioração das expectativas, evidenciou receios e até uma divisão da diretoria sobre uma possível mudança de estratégia a partir de janeiro.

Pela primeira vez desde que o BC interrompeu o último ciclo de aperto monetário, em julho de 2010, o Copom admitiu que errou em suas avaliações. A instituição afirma que a inflação deste ano está ¿sensivelmente acima do centro da meta¿ e que, na projeção para o ano que vem, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) também vai superar os 4,5% perseguidos pelo governo. Nos documentos anteriores, a autoridade monetária ainda insistia que a inflação convergiria para o centro da meta, o que não ocorreu. ¿Surgiram riscos desde a última reunião, superiores aos que o Copom esperava¿, justificou o BC.

Tarifa maior Mas, mesmo assumindo o engano, o documento deixou os analistas sem um norte. ¿Recorrendo a uma linguagem bastante intricada, a mensagem não permitiu nem descartar nem assumir um aumento de juros em janeiro¿, avaliou Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank. Desta vez, diferentemente das avaliações anteriores, a autoridade monetária descartou a possibilidade de pressões desinflacionárias em função do cenário internacional. ¿Na melhor das hipóteses, o cenário lá fora é visto como ambíguo, dada a aceleração da inflação em alguns países e a redução das possibilidades de deflação em outros¿, ponderou Alexandre Schwartsman, economista do Banco Santander.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, não só o cenário internacional, mas também a ata do Copom, são ambíguos. ¿Avaliamos a necessidade de elevação da taxa básica de juros no primeiro trimestre de 2011, se efetivamente o Bacen (Banco Central) está perseguindo o cumprimento estrito da meta de 4,5% no ano que vem e não em 2012.¿ Os argumentos do analista ganham força à medida que os indicadores são divulgados. Ontem, o Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10) registrou 1,27%, 0,11 ponto percentual acima do mês anterior. A taxa encerrou o ano com avanço de 11,16%. Com os preços administrados nesse patamar, o BC calcula que no ano que vem o consumidor vai pagar 2,9% mais nas tarifas de telefone e energia.

BB GANHA NO CONSIGNADO » O Banco do Brasil está em guerra com a concorrência. Envolvido em uma forte disputa pelas folhas de pagamento das unidades da Federação, a instituição vem obtendo sucesso na maioria das negociações. O objetivo é aumentar a carteira de crédito do consignado, aquele descontado no contracheque do servidor. O Maranhão foi a última vitória do banco. Mas os correspondentes bancários do estado, que antes ofereciam o serviço, fizeram protesto em São Luís pelo direito de continuar a conceder empréstimos. O decreto que permite ao BB fazer as operações determina que as taxas cobradas não ultrapassem os 1,6% ao mês, mas em uma simulação em um caixa eletrônico maranhense os juros mensais ficaram acima dos 2% mensais, fora os outros custos da operação.