Título: Comunicado não significa necessariamente alta em abril
Autor: Romero, Cristiano; Oliveira, João José
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2013, Finanças, p. C14

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central escolhe cuidadosamente as palavras de seus comunicados. No divulgado ontem, usou uma frase já bastante surrada. De 2007 para cá, é a quarta vez que ela aparece de forma idêntica nas notas pós-reunião. Em nenhuma das oportunidades a direção da política monetária mudou já no encontro seguinte do Copom. Mas sempre mudou.

Caiu, como amplamente esperado pelo mercado financeiro, a expressão que falava que "a manutenção das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta". Agora, a frase relevante é: "O comitê irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária."

Sozinha, a frase é bastante neutra. Mas tem um significado na direção de um possível aperto monetário, se vista no contexto da comunicação do Banco Central.

Em outubro de 2012, o Copom interrompeu o ciclo de baixa de juros e citou pela primeira vez na sua avaliação que a estabilidade dos juros por período suficientemente prolongado era a estratégia mais adequada de política monetária. Em janeiro, apontou pela primeira vez a "piora no curto prazo" no balanço de risco para a inflação. Nas semanas seguintes, o presidente do BC, Alexandre Tombini, expressou seu incômodo com a alta da inflação e enfatizou que os ciclos monetários não estão abolidos. Agora, deu mais um passo, com a supressão da frase que falava sobre a manutenção dos juros por um "período de tempo suficientemente prolongado".

A questão é se a nova frase dá alguma pista adicional se a alta de juros realmente vai ocorrer, quando ela vai ocorrer e com qual intensidade.

No passado, quando usou essa frase exata no comunicado, o Banco Central de fato mudou a direção da política monetária. Mas não foi na reunião imediatamente seguinte. O padrão típico é usar a frase pela primeira vez e subir o juro duas reuniões depois.

Em janeiro de 2010, com o Banco Central ainda sob o comando de Henrique Meirelles, o BC manteve o juro em 8,75% ao ano, com um comunicado que continha frase idêntica ao do atual. Na ocasião, o cenário, como agora, era de aceleração inflacionária, com o mercado financeiro aguardando um aperto monetário num ano de eleições presidenciais. O Copom, porém, manteve os juros na reunião seguinte, de março, e repetiu o mesmo comunicado sobre a avaliação do cenário. Só foi aumentá-los no encontro seguinte, em abril, para 9,5% ao ano.

Trecho idêntico apareceu em comunicado de janeiro de 2008, quando também havia pressões inflacionárias. O BC manteve o juro em 11,25% ao ano. Não subiu na reunião seguinte, em março. Mas duas reuniões mais tarde, em abril de 2008, iniciou um ciclo de aperto monetário interrompido apenas com a crise causada pela quebra do Banco Lehman Brothers.

Em setembro de 2007, o mercado financeiro esperava que o BC encerrasse um longo ciclo de baixa de juros, que levaria a Selic a 11,5% ao ano. Em outubro, porém, não houve mudança na direção da política monetária, com mais um corte na taxa, para 11,25% ao ano. Só uma reunião adiante a taxa foi mantida, interrompendo o ciclo de queda.