Título: Ritmo se acomoda na indústria, mas bens de capital têm forte alta
Autor: Durão, Vera Saavedra e Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2007, Brasil, p. A3

A indústria brasileira começou o ano com um quadro de estabilidade em relação ao final do ano passado. No conjunto, a produção caiu 0,3% ante dezembro com dados que já descontam fatores sazonais, fortemente influenciados pela queda de 4,7% na indústria de refino, por conta de paralisações técnicas de refinarias da Petrobras, conforme divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se não fosse esse recuo, o ritmo seria de um pequeno crescimento entre 0,1% a 0,2% na atividade fabril, como calculou Bráulio Borges, economista da LCA Consultores. Na comparação com janeiro do ano passado a indústria avançou 4,5% e, em doze meses, 2,9%, ligeiramente acima do crescimento de 2,8% no ano passado.

Para o IBGE, esta performance sugere mais uma "acomodação", após três meses de expansão, do que uma mudança de tendência de expansão da atividade fabril, acelerada no último trimestre de 2006. Para o coordenador de Indústria do instituto, Sílvio Salles, os números de janeiro são mais favoráveis em outras bases de comparações do que no ajuste sazonal. "Ao crescer 4,5% na comparação mensal, a indústria abre o ano com expansão acima da média do ano passado, de 2,8%", destacou. Pela média móvel trimestral, indicador de tendência, a produção industrial do país cresce há dez meses, ainda que em velocidade lenta, observou.

Economistas ouvidos pelo Valor desenham cenários otimistas, de avanço da produção industrial. Para fevereiro, as estimativas variam de estabilidade a um aumento entre 0,4% e 0,6% na comparação com janeiro e taxas superiores a 3% na comparação com 2006. Alexandre Teixeira, da MCM Consultores, avalia que os dados do IBGE não revelam desaceleração neste início de ano em relação ao último trimestre de 2006, quando a produção industrial cresceu 3,2%. "Um exercício econométrico feito pela MCM projeta para a indústria crescimento num ritmo entre 3,5% a 3,8% para os próximos meses".

Para Fernando Fenólio, da consultoria Rosenberg Associados, o crescimento industrial vem sendo sustentado pela indústria de bens de capital, como demonstraram os números de janeiro. No mês, a produção de máquinas e equipamentos foi a que mais cresceu, expandindo 1,7% ante dezembro e 18% na comparação com janeiro do ano passado e acumulando aumento de 6,6% na taxa de doze meses.

Nos cálculos da Rosenberg, em janeiro, o consumo aparente de máquinas e equipamentos (levando em conta produção e a importação de bens de capital menos a exportação) avançou 5,8% ante dezembro e 15,7% ante janeiro de 2006. Deste percentual, 29% foi de importação de máquinas e equipamentos e 12,2%, de produção local. "Esta é uma indicação de aumento de oferta futura, reduzindo a probabilidade de um descasamento entre oferta e demanda, o que aponta para um cenário confortável no ano", ressaltou o economista.

Outro setor que cresceu foi o de bens de consumo duráveis. Em relação a dezembro, a produção deste segmento subiu 2,1% e, ante janeiro de 2006, 4,7%. Isabella Nunes Pereira, do IBGE, explicou que há uma influência grande de exportações de linha branca neste resultado, que vem até mesmo superando as exportações de veículos. A produção de linha branca aumentou 15% em relação a janeiro de 2006.

Bráulio Borges, da LCA, acredita que pode ser detectado um movimento de reposição de estoques na indústria automobilística, em janeiro. Na linha marrom (TVs, DVDs e aparelhos de som), ocorreu uma queda de 30,1% na produção do primeiro mês do ano, fortemente influenciada pela base de comparação, pois em janeiro de 2006 os fabricantes estavam de olho na Copa do Mundo

Os bens intermediários tiveram queda de 0,3% em janeiro ante dezembro e cresceram 3,2% em relação a janeiro de 2006. Mas, a indústria de refino foi a que teve contribuição negativa de 0,4 pontos percentuais no desempenho da indústria em janeiro ante dezembro, derrubando o índice, conforme avaliou Borges da LCA Consultores. Apesar do efeito desta indústria ser pontual, como destaca o economista, o setor de refino sozinho pesa 8% na produção industrial. "A produção industrial teria tido um crescimento no início do ano se esta indústria fosse excluída do cálculo da pesquisa".

Neste começo de ano, produtos do segmento de bens semi e não duráveis continuaram sofrendo a influência do câmbio apreciado, apontou Sales, do IBGE. No seu entender, a indústria continua aumentando sua capacidade produtiva, mas, indústrias nacionais continuam afetadas fortemente pela entrada de importados. "As indústrias de calçados, têxtil e vestuário, além de fecharem no vermelho em 2006, abriram 2007 acentuando a queda". A produção de calçados, por exemplo, recuou 11,5% em janeiro, em relação mesmo período do ano passado. (do Valor Online)