Título: Dados de fevereiro criam dúvidas sobre ritmo da recuperação
Autor: Martins, Arícia; Elias, Juliana
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2013, Brasil, p. A4

O forte ritmo da produção industrial em janeiro - alta de 2,5% na comparação com dezembro, na série com ajuste sazonal - ainda não é uma garantia de que a indústria tenha entrado em uma firme retomada. Os indicadores já disponíveis sobre a produção de automóveis e de caminhões em fevereiro e as pesquisas que mostraram queda da confiança em diferentes setores da economia no mês passado levam os analistas a prever uma produção industrial fraca naquele mês. Alguns acreditam em queda, outras em um crescimento bem inferior ao registrado em janeiro.

Apesar do resultado de janeiro ter superado a expectativa de 2,1% do banco ABC Brasil, o número não melhorou as perspectivas de crescimento para a indústria no próximo mês, diz a economista Mariana Hauer. Ainda há indicadores antecedentes importantes da atividade industrial referentes a fevereiro que não foram divulgados, como o fluxo pedagiado de veículos e a expedição de papelão ondulado, mas a analista destaca que o impulso mais importante da produção de janeiro, que partiu de veículos, certamente irá se perder no mês seguinte.

Cálculos dessazonalizados pelo ABC com base em dados da produção de veículos, divulgados pela Anfavea, a associação das montadoras, mostram que a produção total de veículos, entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, recuou 1,7% entre janeiro e fevereiro, após salto de 34% na comparação anterior. Segundo o IBGE, a alta de 4,7% no segmento de veículos automotores no período foi a principal influência positiva sobre o resultado geral da produção no primeiro mês do ano.

Além dos dados antecedentes referentes a automóveis, Mariana menciona o consumo de energia, que ficou praticamente estável na passagem mensal, com aumento de 0,02%, e estabilidade do Índice de Confiança da Indústria (ICI) da Fundação Getulio Vargas (FGV) na mesma comparação como mais dois indícios de perda de fôlego da indústria na próxima leitura da pesquisa de produção do IBGE. "Acredito que a indústria não irá mostrar queda em fevereiro, apenas uma alta mais fraca, mas se os próximos indicadores antecedentes também vierem ruins, os outros setores não conseguirão puxar o crescimento", diz Mariana.

O dado da Anfavea levou a LCA Consultores a uma estimativa preliminar de queda de até 2% na Pesquisa Industrial Mensal (PIM) de fevereiro sobre janeiro. "Nossa avaliação é que a indústria segue uma recuperação lenta e irregular, alternada por meses fortes e meses com queda", disse Rodrigo Nishida, economista da consultoria.

"Os indicadores mostram uma recuperação, mas ainda não há muita convicção de que essa recuperação seja consistente", diz Flávio Serrano, economista sênior do Banco Espírito Santo (BES). "Quando olhamos a trajetória como um todo, o crescimento é moderado. Há um mês forte, e outro fraco."

A partir de indicadores antecedentes da indústria já divulgados, como a produção de veículos e a confiança do empresário, o economista Leandro Padulla, da MCM Consultores, projeta recuo de 0,4% da produção industrial entre janeiro e fevereiro, feito o ajuste sazonal, após a alta de 2,5% observada na comparação anterior.

Padulla destaca que essa projeção é preliminar, já que outros antecedentes importantes, como o fluxo de veículos pesados nas estradas e a expedição de papelão em fevereiro ainda não são conhecidos. Mesmo se esses dados vierem positivos, no entanto, serão insuficientes para reverter a variação negativa esperada para a produção, diz o analista, já que o setor automotivo tem maior peso na pesquisa do IBGE e mostrou desempenho menor em fevereiro. Dados sem ajuste sazonal da Anfavea apontam queda de 17,9% sobre janeiro.

Segundo Padulla, vendas e produção do setor começam a ser afetadas pela volta gradual do IPI, cuja alíquota para automóveis de mil cilindradas passou de zero em dezembro para 2% em janeiro. No primeiro mês do ano, lembra o economista, muitas concessionárias tinham estoques do ano passado e fizeram promoções com os preços ainda isentos do imposto.