Título: Lula fecha equipe depois da convenção
Autor: Rittner, Daniel e Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2007, Política, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiou a reforma ministerial e decidiu anunciar a sua equipe apenas na semana que vem, depois da convenção nacional do PMDB, como defendiam os aliados do candidato a presidente do partido, Nelson Jobim, que renunciou ontem à disputa. A participação da legenda na Esplanada deverá ser menor do que reivindicavam os pemedebistas da Câmara, que queriam indicar dois representantes para o primeiro escalão, mesma participação que já tem o PMDB do Senado. Essa sinalização foi dada ontem pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.

O ministro repetiu várias vezes que o PMDB da Câmara fará apenas uma indicação para o ministério. Genro não quis confirmar, mas o nome já foi definido: o deputado Geddel Vieira Lima irá para a Integração Nacional. A ala do PMDB no Senado manterá seus dois representantes - Silas Rondeau (Minas e Energia) e Hélio Costa (Comunicações). Nessa composição, será entregue um quarto ministério, o da Saúde, a um pemedebista. Mas o médico José Gomes Temporão é considerado como uma indicação pessoal de Lula, sem compromisso partidário.

Cobiçado pelos deputados do PMDB, o atual ministro, Luís Carlos Guedes Pinto, ganhou um apoio político de peso. O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), declarou ao Valor endossar o nome de Guedes. "Ele é um bom técnico, tem sido um bom ministro e poderia ficar. Soube que o presidente está inclinado a confirmar a permanência [de Guedes]. Se eu for consultado, coisa que não aconteceu, não há problema em apoiar", afirmou. "Ele conversa bem com o setor e tende a se firmar. Se for confirmado, pode ter mais desenvoltura", ponderou Maggi. Deputados pemedebistas da bancada ruralista insistem em comandar a Pasta, que pode ser usada também para composição com partidos da coalizão.

O apoio de Blairo Maggi, único líder ruralista a apoiar o presidente Lula nas eleições de 2006, torna público um movimento até agora restrito aos bastidores. Maggi tornou-se um conselheiro de Lula no setor produtivo. Encontrou-se meia dúzia de vezes com o presidente e hospedou-o em sua fazenda, em Sapezal (MT). "É complicado indicar nomes. Tem muitas cobranças, muita responsabilidade", diz Maggi. Ainda assim, como líder ruralista, reservou-se o papel de "fiador" do novo ministro.

A despeito da vontade dos deputados do PMDB, Genro acredita que a distribuição das indicações é suficiente para garantir o apoio do partido ao governo. "Todo o movimento que o presidente está fazendo é para unificar o PMDB, tanto do Senado quanto da Câmara, em torno dos projetos do governo", disse o ministro. Segundo ele, a decisão de deixar a reforma para a próxima semana é "até para não parecer que (o governo) está fazendo qualquer intervenção na convenção do PMDB". Genro negou a interferência do Planalto na desistência do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim à disputa da presidência da legenda.

Na reta final das negociações para a nova composição do ministério, as últimas peças começam a ser encaixadas. "A reforma está 90% pronta na cabeça do presidente", acrescentou o ministro. Há dúvidas ainda quanto à continuidade de Gilberto Gil (Cultura), antes dado como certo, e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), ambos por motivos pessoais. Falta ainda bater o martelo na participação do PSB, que atualmente controla a Ciência e Tecnologia, com Sérgio Rezende, que deve continuar.

Para satisfazer o PSB, que deve perder o Ministério da Integração Nacional, pode ser criada uma nova pasta - a Secretaria Especial de Portos e Aeroportos - para acomodar o deputado Beto Albuquerque (RS). Pedro Brito, atual ministro indicado pelo deputado Ciro Gomes (PSB), é cotado para assumir a presidência do Banco do Nordeste ou a Sudene, que ajudou a criar no ministério.

Outro que se encaixa nessa situação é o atual ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, que cederá lugar ao senador Alfredo Nascimento (PR-AM), a quem sucedeu. Passos deverá ser convidado para voltar à secretaria-executiva da Pasta ou assumir uma diretoria de banco estatal.

Lula resolveu dar ontem a partidos aliados as lideranças no Legislativo. Ele convidou ontem a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) para o cargo de líder do governo no Congresso. O presidente ofereceu ao deputado José Múcio Monteiro (PTB-PE) a liderança na Câmara e oficializou o convite a Romero Jucá (PMDB-RR) para mantê-lo como líder no Senado.