Título: Padilha tenta criar marca na saúde para disputar SP
Autor: Junqueira, Caio; Sousa, Yvna; Di Cunto, Raphael
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2013, Política, p. A9

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, deu ontem mais um importante passo na tentativa de consolidar uma marca na sua gestão e, assim, ter condições de cacifar sua candidatura a governador do Estado de São Paulo em 2014.

Pela manhã, em São Paulo, o ministro anunciou um repasse de R$ 120 milhões para a prefeitura da capital paulista iniciar a Rede Hora Certa, promessa de campanha do prefeito Fernando Haddad (PT) e aposta do petista para diminuir as filas de espera do sistema público de saúde. Segundo Padilha, serão feitos 90 mil exames em três meses usando as vagas ociosas, com atendimentos aos sábados e domingos, em um programa batizado de "Ação Concentrada Hora Certa". Atualmente, a fila de espera é de 300 mil pessoas para exames e de 500 mil para consultas. À tarde, em Brasília, Padilha anunciou a inclusão de mais dez Estados no programa SOS Emergências, que tem como objetivo melhorar o atendimento dos hospitais públicos, reduzindo filas, tempo de espera por atendimento e a taxa de ocupação em cada unidade. São Paulo já estava incluído no programa.

Por trás dos dois eventos está a busca por uma marca, já que a ausência dela é considerada, no PT e no governo, o maior obstáculo para Padilha sair candidato. O ministro vive hoje uma situação peculiar. É o preferido da maior parte dos petistas com cargo na legenda e no governo. Mas se a escolha tivesse de ocorrer hoje, as chances do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, se lançar seriam bem maiores, já que tem mais a apresentar e parte de uma base de intenção de votos muito maior do que a de Padilha.

Em face desse cenário, o PT tem pelo menos cumprido seu papel de dar suporte político a Padilha. O melhor exemplo disso é o processo em curso de desidratar a pretensão do ex-prefeito de Osasco Emídio de Sousa de se eleger presidente do diretório paulista do partido. Emídio integra a corrente majoritária Construindo Um Novo Brasil (CNB), tanto quanto Padilha. Só que não é o preferido da CNB. Nem do petista mais próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o prefeito de São Bernardo do Campo, Luis Marinho (PT), que teme a eventual ascensão de um nome que faça sombra a ele no chamado "cinturão vermelho" do ABC paulista, repleto de prefeituras petistas.

Como precaução, a corrente começou a trabalhar o nome do deputado federal Vicente Cândido (SP) para assumir o partido em São Paulo, hoje já tido como certo para suceder o deputado estadual Edinho Silva (SP). Ambos são simpáticos ao nome de Padilha, mas avaliam que sem a marca na gestão, está inviabilizado. O prazo é curto: Padilha tem até dezembro para deslanchar a Pasta.

Em outra frente, o PT cuidou de assegurar um ano tranquilo no Congresso a Padilha. Garantiu, nas negociações internas na Câmara dos Deputados, a presidência da Comissão de Saúde da Casa - o eleito foi o deputado Dr. Rosinha (PT-PR). Com isso, abriu mão de outras comissões que tradicionalmente ficam com petistas, como Educação, que foi para Gabriel Chalita, do PMDB-SP, e Direitos Humanos, que gerou polêmica ao eleger Pastos Marcos Feliciano, do PSC-SP, para comandá-la.

Em 2012, a Comissão de Saúde ficou sob comando do DEM. "A possibilidade de fazer uma pauta casada, sendo eu e ele do mesmo partido, é muito grande. Isso sabendo que temos muitas avaliações comuns. Nós dois achamos que é preciso aumentar o financiamento do SUS", disse Dr. Rosinha. Para o deputado, é difícil ter uma marca quando a Pasta é a Saúde. "É um ministério que não executa, ele apenas repassa recursos. Marca você faz em cima de um trabalho que você executa."

Nos dois eventos, Padilha foi questionado sobre se não estava em busca da tal marca de gestão. Negou nas duas ocasiões. Em São Paulo, disse: "Ontem [anteontem] eu estava em Pernambuco. No fim de semana, estive no Rio anunciando parcerias. Sou ministro do país todo", disse. Horas depois, em Brasília, declarou: "Como médico, não tem nada que me anime mais do que ser ministro da Saúde do meu país. Eu recebi essa missão da presidenta Dilma. Tenho muitos desafios pela frente. Na saúde, tem um leão para enfrentar hoje e já outro leão para enfrentar amanhã e é nisso que estou dedicado, nisso que eu estou focado."