Título: Repasse de isenção para o consumidor será parcial
Autor: Marchesini, Lucas; Campos, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2013, Brasil, p. A3

Há pouco consenso em relação à magnitude do repasse final para os consumidores da desoneração da cesta básica anunciada sexta-feira pela presidente Dilma Rousseff. Analistas ouvidos pelo Valor avaliam que dificilmente o consumidor sentirá de forma integral a isenção de impostos sobre os produtos que compõem a cesta, já que parte do incentivo tributário será usado para recompor margens. O repasse integral, afirmam, equivaleria a alívio de até 0,6 ponto para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2013, mas a avaliação é de que a desoneração deve tirar algo entre 0,2 e 0,5 ponto do índice neste ano.

O impacto mais importante ocorrerá no curto prazo e, por isso, a maioria dos economistas consultados considera que a medida pode ter garantido que a inflação oficial acumulada em 12 meses não irá superar em março o limite psicológico estabelecido pelo teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%. Até fevereiro, o índice acumulava alta de 6,31%, nessa base de comparação.

As alíquotas de PIS e Cofins foram reduzidas de 9,25% para zero para itens como carnes, manteiga, margarina e óleo de soja. Para produtos de higiene pessoal, como açúcar e sabonete, a alíquota, que era de 12,5%, também foi zerada. Caso essas alterações fossem integralmente repassadas pelo varejo, o impacto seria de 0,6 ponto percentual a menos para a inflação no curto prazo, mas a economista Andrea Damico, do Bradesco, projeta repasse de cerca de dois terços da desoneração, equivalente a 0,4 ponto a menos no IPCA.

Para o cálculo, o Bradesco considerou a média dos repasses da redução de IPI de carros, de cerca de 84%, e da desoneração da linha branca, de cerca de 40%. "Consideramos algo próximo da média desses dois eventos para estimarmos o repasse da cesta", disse Andrea.

Para a economista, o principal efeito da desoneração se dará nos próximos três meses. Em função da medida, o Bradesco passou a projetar inflação 0,10 ponto menor em março, para 0,35%. Se confirmadas as projeções do banco, o IPCA alcançaria 6,46% em março e voltaria a desacelerar em abril e maio, sempre no acumulado em 12 meses.

A Tendências também avalia que a desoneração da cesta básica será importante para que a inflação acumulada em 12 meses volte a perder força. Antes do anúncio, a Tendências estimava alta de 0,52% do IPCA em março e avanço de 6,64% do índice em 12 meses. "Provavelmente o governo evitou o estouro do teto da meta e garantiu em abril inflação menor que a alta de 0,64% observada em igual período do ano passado", comenta a economista Alessandra Ribeiro.

A Tendências estima em 0,5 ponto os efeitos diretos e indiretos da medida, o que, em conjunto com o socorro do governo às distribuidoras, que evitará que os custos com o acionamento das térmicas sejam repassados ao consumidores, levará a consultoria a revisar a inflação para o ano de 5,8% para algo mais próximo a 5,4%.

A LCA Consultores também revisou suas projeções para o índice de março (de 0,47% para 0,36%), abril (de 0,44% para 0,32%) e maio (de 0,18% para 0,11%).

Para a economista Priscila Godoy, da Rosenberg & Associados, o índice oficial de inflação terá alta de 0,31% neste mês. Essa desaceleração, após a alta de 0,6% em fevereiro, será motivada pela combinação da deflação de produtos agropecuários observada no primeiro bimestre com a desoneração da cesta básica, o que levará o grupo alimentação e bebidas a desacelerar com mais força em março.

O movimento de revisão para baixo das estimativas de inflação no curto prazo não foi consensual. O Barclays, por exemplo, espera que o IPCA alcance alta de 0,5% em março, contra previsão anterior de 0,4%. Com isso, a inflação medida pelo índice deve chegar aos 6,6% no período de 12 meses até março, ultrapassando, ao menos momentaneamente, o teto da meta de inflação estabelecida pelo governo.

Nas contas do economista Guilherme Loureiro, do Barclays, o impacto cheio da desoneração da cesta básica seria de aproximadamente 0,45 ponto no IPCA, mas, segundo ele, parte relevante da desoneração não será repassada ao consumidor, mas usada para recompor margens. Sendo assim, diz Loureiro, o impacto efetivo deve girar próximo de 20 pontos-base.

O economista Sergio Vale, da MB Associados, também calcula que o alívio será de cerca de 0,2 ponto percentual, "e mesmo assim se perdendo ao longo do tempo, diluindo-se em recomposição de margem que as empresas tendem a fazer com esse tipo de corte", afirma. Vale diz que a medida pode ser contrabalançada pelo aumento do preço do frete, que vem contribuindo para a alta dos preços de produtos agropecuários nos supermercados.

O Itaú estima que apenas um quarto da redução das alíquotas de impostos será efetivamente repassada ao consumidor. "Se as empresas fossem repassar integralmente a desoneração para os preços, a medida "tiraria" 0,48 ponto do IPCA", diz o economista Élson Teles, em nota. O cenário do banco, no entanto, é que o efeito final para o consumidor será de apenas 0,12 ponto percentual.