Título: Álcool move nova safra recorde de cana
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2007, Agronegócios, p. B12

Na próxima segunda-feira, a usina Lins, do grupo Batatais, de Batatais (SP), presidida pelo empresário Bernardo Biagi, dará início à safra 2007/08 de cana no centro-sul do país. Na mesma semana, o Paraná também inicia a colheita da matéria-prima. A expectativa é de recorde de produção de cana, açúcar e álcool no Brasil, com um peso "alcooleiro" como não se vê desde o ocaso do Proálcool, no fim dos anos 80.

A usina Lins faz parte de um pacote de 16 novas plantas que deverão entrar em operação nesta safra, segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). O projeto de novas usinas já soma 147 unidades, das quais 86 saíram do papel, em um investimento de US$ 17 bilhões. Na safra 2006/07, que se encerra em abril, 12 novas usinas já tinham entrado em operação, disse Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica.

Somente na região do oeste paulista, a expectativa é de aportes de US$ 4,5 bilhões, o que inclui a construção de 30 novas unidades até 2012 e expansão das atuais plantas em operação, um total de 72 unidades, segundo José Carlos Moraes Toledo, presidente da Udop (União dos Produtores de Bionergia).

A expectativa é de que a produção de cana atinja 700 milhões de toneladas em 2012 no país, das quais 200 milhões na região do oeste de São Paulo. "A expansão da cana no Estado ocorreu em um primeiro momento em Piracicaba, depois foi para Ribeirão Preto [maior pólo produtor do país]. Agora avança sobre Araçatuba", disse Toledo.

Nesta nova safra, a 2007/08, a colheita no Brasil deverá ultrapassar 460 milhões de toneladas, 10% acima do volume projetado para 2006/07, segundo fontes do mercado. O mix de produção deverá ser de até 52% para o álcool e 48% para o açúcar. Se confirmada a expectativa, será o maior mix para o álcool desde o auge do Proálcool, quando chegou atingir 70%. As novas destilarias em operação a partir deste ano deverão produzir apenas álcool. Os investimentos em açúcar serão feitos em uma segunda etapa.

A produção de álcool em 2007/08 deverá ser de pelo menos 2 bilhões de litros a mais, sobre os 17,5 bilhões de litros desta atual safra, segundo Rodrigues. A maior produção de álcool deverá ser destinado ao mercado interno, com o aumento do consumo por causa dos veículos flexfuel. Em fevereiro, a produção de carros flex foi de 116.585 unidades, 25,3% mais que em igual período de 2006, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

De olho na maior demanda por álcool no exterior, grupos estrangeiros estão realizando fortes investimentos em álcool no país. É o caso da companhia japonesa Mitsui, que deverá investir em parceria com a Petrobras em usinas de álcool no país. Atualmente, a participação estrangeira soma 5%, mas deverá dobrar em 2012.

Os embarques de álcool, hoje em cerca de 3,5 bilhões de litros, deverão triplicar em oito anos, de acordo com informações do ministro da Agricultura, Luiz Carlos Guedes Pinto, à agência Blomberg. Na segunda-feira, a Petrobras e o JBIC (Japan Bank for International Cooperation) assinaram um memorando de entendimentos para negociar financiamentos de projetos de biocombustíveis no Brasil. O governo do Japão pretende aumentar a utilização de etanol no país para 500 milhões de litros até 2010, como parte de seus esforços para cumprir a meta de emissões definida pelo Protocolo de Kyoto.

A Petrobras, por meio de sua subsidiária Transpetro, também pretende investir US$ 1,1 bilhão na construção de alcodutos, ligando a região de Senador Canedo (GO) até o São Sebastião (SP), para facilitar o escoamento da produção do combustível, conforme informou a estatal na abertura da Feicana/Feibio 2007, feira sucroalcooleira realizada em Araçatuba (SP).

Com a visita do presidente americano George W. Bush ao Brasil nesta semana, o governo brasileiro pretende ampliar o mercado de combustível no exterior e espera que os EUA facilitem a entrada de álcool naquele país. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, afirmou ontem em São Paulo que o Brasil está disposto a colaborar com os EUA na abertura de mercados. Furlan participou ontem do encontro de empresários do Brasil e Japão, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). No mesmo evento, Guedes afirmou que o governo brasileiro pretende transformar o álcool em commodity internacional.