Título: Fundos mais caros ainda perdem para a poupança
Autor: Ribeiro, Alex e Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 07/03/2007, EU & Investimentos, p. D1

Com o novo cálculo da Taxa Referencial (TR), divulgado na segunda-feira, a diferença de rentabilidade entre caderneta e fundos DI ficou estável, mas a vantagem da poupança em relação a alguns fundos vai continuar, alerta o matemático José Dutra Vieira Sobrinho. No mês passado, os fundos DI renderam, em média, 0,67% líquidos (considerada alíquota de 22,5% de IR), enquanto a caderneta pagou 0,57%. Mas muitos fundos DI de varejo, com taxas maiores de administração, já vêm rodando abaixo do ganho da caderneta há um bom tempo.

A redução da TR e da rentabilidade da poupança não é suficiente para que todos os fundos conservadores voltem a ser mais competitivos, diz Dutra. Por exemplo, uma aplicação de seis meses em fundo DI, que tem de bancar alíquota de imposto de renda de 22,5% sobre o ganho, com taxa de administração de 4% ao ano continua a render menos do que a caderneta, diz Alexandre Espírito Santo, da Avanti Gestão de Recursos.

"O governo está ajustando a situação para um cenário de juros e inflação ainda mais baixos", comenta Espírito Santo. "Mas essa distorção, com a caderneta rendendo mais do que fundos, já ocorria e deverá continuar, embora agora pare de crescer".

O ganho maior em relação aos fundos de investimento conservadores fez a caderneta voltar a apresentar captação no ano passado, com saldo de R$ 6,5 bilhões em depósitos líquidos, enquanto em 2005, houve perda de recursos de R$ 2,8 bilhões. Já os fundos DI, que seguem o juro corrente, apresentaram em 2006 mais saques que depósitos pela primeira vez desde a crise de 2002. Neste ano, a captação da caderneta continua em alta e os fundos DI seguem com perda. Esses fatos, para analistas, indicam um movimento de transição de recursos dos fundos à caderneta.

O movimento do dinheiro dos fundos em direção à caderneta é visto com maus olhos pelos bancos à medida que, pelas regras do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), eles têm de aplicar obrigatoriamente 65% desses recursos no crédito imobiliário, com remuneração menor do que outras linhas de crédito mais lucrativas.

Mas não é possível dizer ainda se a migração dos fundos para a caderneta de poupança cessará, diz Espírito Santo. No curto prazo, a caderneta ainda continua bastante atraente em comparação com os fundos mais caros, mas, no longo prazo, os fundos podem voltar a ganhar competitividade, diz. "Essas mudanças não devem ser causa de nenhuma movimentação brusca porque a mudança é sutil."

Com a revisão do cálculo da TR, também a rentabilidade do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) é reduzida. Isso ocorre porque a correção do FGTS equivale a TR mais 3% de juros ao ano. "Quem ganha com a medida, é o mutuário com financiamento imobiliário atrelado à TR", diz Dutra.

Roberto Derziê, da Caixa Econômica, diz não ter receio de que, com as medidas, a caderneta perca o espaço conquistado nos últimos meses frente ao aplicador. Mas agora, com essa mudança e por ajustes sazonais, ele prevê um ritmo mais equilibrado de captação, ou seja, em volume menor. ( AR e DF )