Título: Indústria teve melhor ano desde 1986
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2005, Brasil, p. A3

A produção da indústria caiu 0,4% em novembro de 2004 ante outubro na série com ajuste sazonal e cresceu 8,1% em relação a igual mês do ano anterior. No acumulado do ano, a produção registrou crescimento de 8,3% até novembro, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sílvio Salles, coordenador da Pesquisa Mensal da Indústria (PIM), do IBGE, lê esse resultado como um quadro de acomodação e não como início de uma fase de retração. Ele avalia que o resultado de dezembro possa ser positivo em relação a novembro e considera muito forte a probabilidade de a indústria fechar 2004 com uma taxa de 8%, mesmo sem o dado de dezembro. Este resultado, segundo ele, será recorde nos últimos 18 anos, só superado pela taxa de 10,6% do Plano Cruzado, em 1986. Salles destacou o desempenho inusitado dos bens semi e não duráveis, sinalizando mudança do perfil do crescimento industrial em 2005, e o comportamento dos bens de capital. O setor de bens de capital industriais feitos sob encomenda registrou crescimento pelo quarto mês seguido (na comparação com igual mês de 2003). Em novembro, a produção industrial deste segmento cresceu 8,1% - em relação ao novembro anterior -, embora ainda acumule uma queda de 3,2% no ano de 2004. Os bens sob encomenda sinalizam investimentos em novas plantas industriais. Na comparação com outubro, a indústria apresentou queda em 16 dos 23 ramos pesquisados na série sazonalmente ajustada. Os bens intermediários recuaram 1,1% nessa base de comparação, enquanto os bens de consumo semi e não duráveis cresceram 0,5%, e os duráveis e bens de capital apresentaram aumentos modestos, de 0,2% cada um deles. No acumulado de 2004, até novembro, o desempenho de todas as categorias de uso foram excelentes, confirmando o padrão de crescimento ao longo de quase todo o ano passado, sob a liderança dos bens duráveis (22,3%) e bens de capital (20,4%). Os intermediários acumularam no ano 7,4% e os semi e não duráveis, nesse indicador, continuaram na rabeira, subindo só 3,8%. Para Salles, o comportamento dos semi e não duráveis no fim de 2004 indica uma mudança do perfil de crescimento industrial que deve permanecer ao longo deste ano, impulsionado mais pelo mercado interno. O crescimento de bens não duráveis está sendo impulsionado pelo setor de bebidas e pela produção de carburantes (gasolina e álcool). Além destes, os semi duráveis (calçados e vestuário) cresceram 4,2%. Outra categoria destacada por Salles é a de bens de capital. Na sua avaliação, esse setor tem dinâmica suficiente para liderar a indústria em 2005 por conta da expansão prevista para investimentos fixos. A desaceleração do setor em novembro (crescimento de 4,4% em relação a novembro de 2003 e um acumulado de 20,4% no ano) é localizada nos bens de capital para agricultura, com queda de 15% na comparação com novembro do ano anterior. Em outros subsetores, os bens de capital mantêm o ritmo positivo. Salles cita ainda os bens de capital para indústria, com alta de 14,1% na base de comparação novembro/novembro. Esse segmento abriga os bens seriados e os bens sob encomenda. O destaque é o crescimento contínuo (nos últimos quatro meses) dos bens sob encomenda sobre o mesmo mês do ano anterior. Os bens seriados em novembro/novembro cresceram 15,1%, acumulando 19,2% no ano. Para a composição do investimento da indústria os seriados são mais importantes, destaca Salles, apesar de os bens sob encomenda demandarem maior valor agregado. O coordenador da pesquisa do IBGE também destacou o crescimento das importações de máquinas e equipamentos (da ordem de 27,3% em dezembro e de 17,2% em 2004), o que confirma as expectativas dos empresários manifestadas nas sondagens industriais e nos números da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para ele, estes números mostram que a indústria deverá recuperar sua trajetória de expansão a partir de dezembro. Já existem sinais positivos: a estatística de produção de veículos, em dezembro; os indicadores de vendas de shoppings e as vendas industriais da CNI, em novembro, foram positivas depois de dois meses de queda. Esses indicadores mostram que a recomposição de estoques pode ser expressiva nesse início de ano, tanto para o comércio como para a indústria, na avaliação de Salles.