Título: Brasil e Argentina divergem sobre subsídios
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2007, Brasil, p. A2

Um episódio aparentemente menor, ontem, na Organização Mundial do Comércio (OMC) ilustrou posições diferentes do Brasil e da Argentina, sócios do Mercosul, em relação ao corte de subsídios agrícolas nos Estados Unidos. Em comunicado apresentado na sessão especial sobre a reforma do comércio de algodão, a Argentina advertiu que a proposta de nova lei agrícola (Farm Bill) dos EUA enviou um sinal inquietante quanto à futura definição de novas regras para o comércio agrícola global.

Para a Argentina, se a nova lei for aprovada, não respeitará recomendações da OMC na disputa do algodão entre Washington e Brasília, aumentará em 65% a ajuda para a commodity e violará os compromissos assumidos por Washington de reduzir as subvenções. Já o Brasil tem posição diferente. Primeiro, o país espera para o dia 18 de abril o resultado de um novo painel contra os EUA, pelo qual os juízes da OMC dirão se Washington retirou ou não todos os subsídios condenados na briga do algodão. Além disso, Brasília negocia com os EUA um esboço de acordo agrícola, como líder do G-20, que possa desbloquear a Rodada Doha até meados de junho.

Nesse cenário, a delegação brasileira pouco apreciou o comunicado argentino e o embaixador Clodoaldo Hugueney deu uma alfinetada inusual no sócio em plena reunião especial na OMC: "Estamos esperando os resultados do painel. Entretanto, não é apropriado fazer observações específicas sobre o tema nessa sessão."

Ao contrário da visão argentina, negociadores brasileiros acham que os EUA têm dado alguns sinais positivos para reduzir as subvenções, mas não é possível no momento dizer como será a nova lei agrícola que sairá do Congresso.

O Brasil e os EUA se aproximaram nas discussões na OMC. Enquanto os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush discutiam como chegar a um acordo, em encontro em São Paulo, o presidente argentino Néstor Kirchner recebia o venezuelano Hugo Chávez, que tem pouca simpatia pelos planos de liberalização na OMC.

Um embaixador de país industrializado, com posição-chave nas discussões em Genebra, estima que atualmente o Brasil é o país que mais impulsiona por um sucesso da rodada, seguido da União Européia. Para esse negociador, existe uma "pequena chance" de desbloqueio na área agrícola em meados de junho.